domingo, 12 de junho de 2022

E.T telefone minha casa


Você entende de uma vez por todas que cinema não se trata apenas de ver filmes quando, mesmo criança e ainda sem compreender nada sobre a vida, se depara com um longa que virou o seu mundo de cabeça para baixo. E ele nunca mais saiu daquela posição. 

Eu tinha apenas seis anos quando fui ao Cine Olaria, na zona da Leopoldina no Rio de Janeiro, com minha mãe assistir E.T - o extraterrestre, de Steven Spielberg. Não fazia a menor ideia de quem era Spielberg e nem sequer a sinopse do filme eu conhecia. E ainda assim eu decidi naquele exato momento: "eu quero que isso, essa coisa chamada cinema, faça parte do resto da minha vida". E assim foi. 

E agora, em 2022, E.T completa quatro décadas de existência sem perder uma vírgula do seu charme. 

A história de Elliott (Henry Thomas), que vive uma rotina enfadonha num subúrbio dos EUA junto com a mãe e os dois irmãos e aguarda ansioso que o pai volte para casa e cuja existência é completamente modificada quando descobre que um alienígena está escondido na sua garagem, ganhou multidões ao redor do mundo e o selo de "filme infantil de uma geração". Contudo, ele sempre foi bem mais do que isso. 

Spielberg, que já era lendário por Tubarão e Contatos imediatos do terceiro grau, aqui entrega o seu filme família por excelência e nele vemos muitos dos dilemas do próprio diretor (como, por exemplo, a difícil relação com o próprio pai).

O extraterrestre, por sua vez, representa a essência da amizade - algo que Elliott até então nunca teve - e é, por si só, também um espécime perdido numa terra estranha, tendo em vista que se perdeu de sua nave e agora precisa de ajuda para voltar pra casa. 

Como pano de fundo para compor a narrativa, o cientista clichê que aguarda ansioso, há anos, por esse contato imediato (e que também possui muito da solidão de Elliott), referências ao halloween e a rotina escolar dos norte-americanos e, claro, cenas mais do que inesquecíveis para a história do cinema, como a eterna fuga das bicicletas. 

E passados 40 anos ainda me pergunto o que faltou para que Spielberg realizasse uma continuação desse clássico (embora, em meu íntimo, eu acredite que no final das contas ele acabou fazendo a coisa certa!). Mais: por que esta fórmula de sucesso nunca se repetiu? Embora J. J. Abrams tenha tentado com Super 8, a verdade é única: nunca mais hollywood conseguiu reproduzir de maneira genial a relação entre o garoto solitário e o melhor amigo alien. O que, confessemos, é uma pena! 

Ao fim, E.T constrói como legado final um interessante ensaio sobre a infância e a traumática transição para a vida adulta numa época em que o cinema americano ainda tentava se libertar das constantes revoluções e questionamentos promovidos pela nova Hollywood na década anterior. 

E eu, para minha eterna alegria (pois não fossem longas como este não estaria até hoje escrevendo sobre sétima arte), continuo me lembrando daquela criatura que, com o dedo brilhando, curou o dedo cortado do menino e o convidou para ir embora com ele na sua nave. Honestamente... Se eu fosse o Elliott, tinha ido. O mundo piorou muito de lá pra cá.   

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