sexta-feira, 6 de março de 2020

É pandemia ou não é?


É todo dia, toda hora, o tempo todo, na tv, na rua, no jornal impresso pendurado na banca, na conversa de botequim, já encheu o saco, mesmo!

"Dólar reduz alta após bater R$ 4,50 com temor global sobre coronavírus; Bolsa tem forte oscilação", "Com primeiro caso no Brasil, não é preciso comprar máscara  nem entrar em pânico", "Droga antimalária poderia ser a solução para o coronavírus", "Coronavírus já é detectado em 45 países do mundo, em todos os continentes", "Coronavírus pode impactar crescimento global", "Temor por surto de coronavírus e impactos da doença sobre a economia global", "Fora de controle: não o coronavírus, mas as reações a ele", "FMI deve reduzir projeção para crescimento global por causa de coronavírus", "Facebook cancela seu maior evento do ano por causa do coronavírus", "Existe a possibilidade das Olimpíadas de Tóquio serem canceladas por conta do coronavírus", etc etc etc e milhões de outros etc. 

Pois é: o coronavírus dita a pauta dos diálogos e do dia-a-dia carioca, brasileiro e mundial. O problema? O meu ceticismo em acreditar em tudo que verse sobre o problema, sobre o vírus em si. Isso porque somos - sempre fomos - um país que adora fabricar cortinas de fumaça toda vez que uma crise financeira mundial se instaura. Gostamos, gostamos mesmo, da mentira (quer dizer: hoje em dia chamam ou de pós-verdade ou de fake news, mas em tese significam a mesma coisa) e ela volta e meia ressurge das cinzas, como uma fênix alucinada. 

O senhor paulista de 61 anos que veio das férias na Itália para cá e se tornou a ponta do nosso iceberg (o primeiro caso nacional do vírus) não demora muito ganhará a fama de antipatriota ou calhorda - o que for mais fácil de pronunciar na hora! - por parte dos eternos ignorantes de plantão travestidos de nacionalistas ao extremo. Já prevejo gente por aqui dizendo: "Por que esse desgraçado não ficou por lá mesmo, não morreu por lá? Não. Tinha que trazer essa desgraça aqui para o Brasil". 

Nesse momento nos transformamos numa faceta animalesca e egoísta de nós mesmos. Algo, aliás, que nossa sociedade adora: sentar em cima de seus próprios direitos e privilégios e que se danem os demais. 

Atrelado ao coronavírus uma indústria da falácia, das invencionices, do exagero, da eterna mania humana que temos de fabricar tragédias em larga escala. E ainda por cima tem quem se orgulhe de ser essa porção vil (e contraditória) da humanidade. 

E olha que para aumentar ainda mais o circo midiático ainda está rolando a vacinação contra o sarampo e a possibilidade de um regresso da dengue e da zika, que volta e meia também dão as caras por aqui, fazendo aquele velho estrago de sempre. Não se esqueçam: o verão só acaba no final de março. 

Como sou um ser cinematográfico - e vocês, meus caros leitores, sabem bem disso - minha mente me faz voltar ao longa-metragem Contágio, do diretor Steven Soderbergh (cineasta americano famoso por espezinhar mazelas da sociedade). Lá, o vírus destruiu milhões de vidas e transformou o mundo numa sucursal de seita religiosa fanática. Com uma diferença: o cinema recorre sempre a um animal hospedeiro. Já aqui, no mundo real, os teóricos da conspiração aproveitam a deixa para falar de "testes de vacina que deram errado, ocasionando um problema ainda maior" (até com a AIDS tem quem especule acerca disso!). 

Portanto, no geral, eu vejo o caso coronavírus (e o itálico aqui é proposital) na prática como mais uma ficção criada para apavorar aqueles que, por natureza, já se apavoram com uma enorme facilidade. E em se tratando de Brasil, terra que nunca primou pelo quesito inteligência, esse terreno é extremamente fértil e cai como uma luva para os interesses daqueles que deveriam ser nossas autoridades, mas não passam de reles factoides e viciados em fama, poder e dinheiro. 

Dá pra dizer que "estamos todos lascados, de novo?". É claro que dá. Sempre deu. Mais: lascados no sentido de sumariamente enganados E respondendo a pergunta proposta pelo título deste humilde e controverso artigo, não sei se haverá pandemia. Mas, para quem espera algo na linha Resident Evil ou o livro do escritor Max Brooks, O guia de sobrevivência a zumbis - proteção total contra os mortos-vivos, melhor diminuir drasticamente as expectativas. Nós já passamos da idade de transformar esse tipo de história em algo tão sobrenatural assim!


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