sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Um homem de culhões


"Os grandes homens partem e a saudade é o que nos fica". Ouvi isto certa vez de um professor e acredito que a frase cabe como uma luva para este sofrido artigo.

Como explicar a morte de um homem da imprensa único, diferente da grande maioria da classe jornalística, mais interessada em chamar atenção para si mesmo do que noticiar fatos e mazelas do país? Honestamente... Impossível. A morte torna qualquer explicação impossível. 

De factual mesmo apenas uma verdade: faleceu o jornalista Ricardo Boechat. 

Ligo a tv e a notícia sobre o queda do helicóptero que o transportava já está adiantada. Meus olhos paralisam na tela sem entender absolutamente nada. A âncora do programa Estúdio i da Globo News diz estar chocada, estarrecida, sem palavras. E ela não é a única. Não é de hoje que acompanho na internet as matérias e o programa do qual Boechat participa. Esse sim era um mito. 

Em meio a tanta imprensa marrom, sensacionalista, mais preocupada com questões levianas, Boechat me ensinou que não se faz jornalismo de verdade sem incomodar interesses. E ele incomodou. Muitos. Que o digam setores da Igreja evangélica, esse império da fé mercantilizada, regado a ouro e ignorância!

Ele dizia o que pensava, doa a quem doer. Para muitos defensores da moral hipócrita "quem fala o que quer, ouve o que não quer", um crime inafiançável. Para ele, Boechat, questão de respeito a profissão. Profissão essa, por sinal, que nos últimos anos vem sendo tão maltratada. 

Por todas as emissoras e veículos por onde passou (e não me cabe aqui contar a história dele para fãs de comunicação e jornalismo que deveriam ter a obrigação de conhecer a sua história grandiosa) falou a gregos e troianos, feito raro. 

Não era de se posicionar como bajulador de segmentos político-partidários ou qualquer outro grupo de interesse. Quando acusava, acusava mesmo. E acusou muito! Recentemente cobrou uma postura mais enérgica da Vale e do Flamengo sobre as tragédias recentes em Brumadinho e no CT do Ninho do Urubu. Grande Boechat! 

Em seu funeral uma multidão de amigos e familiares, até mesmo pessoas anônimas, fãs de seu texto preciso e denunciatório. Que tristeza a saudade por quem parte! Nos despedimos de um grande homem e não nos demos conta de fato. Quem sabe com o passar dos dias, semanas, não acordemos dessa letargia que vem nos governando nos últimos 4, 5 anos, impondo limites, verdades, e caiamos na real. 

Perdemos um sobrevivente da mídia, de um tempo em que imprensa era sinônimo de reportar, denunciar, esclarecer e não fazer festa e sensacionalismo com qualquer assunto. Ricardo Boechat era um homem de culhões, na melhor expressão do termo. Algo que anda em falta nesse Brasil repleto de bunda-moles e tendenciosos. E agora? Como é que fica? Não fica. Infelizmente. 

Descanse em paz, mestre... Ah! E você não tem ideia da falta que vai fazer por aqui!!!

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