segunda-feira, 23 de junho de 2025

A Capital irônica do Livro


O Brasil é realmente um país repleto de ironias...

Vejo somente agora a notícia de que o Rio de Janeiro foi escolhido pela UNESCO como Capital Mundial do Livro para o ano de 2025, marcando a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa recebe este título. E a sensação que me fica é: vivêssemos num país desenvolvido essa seria uma notícia esplêndida. O problema? Não somos. Na verdade, o conceito de leitor nesse país é um tanto quanto deturpado.

Falar que o Brasil é um país de "não-leitores" é praticamente uma frase clichê. Contudo, nas últimas décadas, nos tornamos leitores de coisas deploráveis e de gigantescas demagogias literárias. 

Os leitores de bíblias (leia-se: aquele que lê o livro sagrado ao pé da letra e entende uma deformação dos fatos) cresceu muito com a ascensão de certas vertentes religiosas. E acreditem: isso não é nada bom, ainda mais se tratando de uma sociedade fascinada por Fake News e figuras públicas contraditórias. 

Somem a isso os modismos temporários, aqueles que vêm e vão, quando não vêm e ficam estabelecidos de uma vez. Já houve época de cultuarmos o almanaquismo (era um tal de almanaque dos anos 70, 80, 90, do fusca, de seriados, de cinema, etc... que chegava a deixar os leitores perdidos em meio a tantos lançamentos efêmeros). Depois a cultura norte-americana inventou os Young Adults (nunca entendi qual o problema da expressão literatura infanto-juvenil... Não me soava agressivo o título!) com livros voltados para um público jovem cheio de manias e mimimis. Atualmente, parece que só se fala nisso. E não se esqueçam dos famigerados livros de colorir (sim, pois o mercado editorial - que vive em crise, segundo eles próprios - precisa sobreviver).

Os clássicos ainda têm o seu público cativo. O problema 2: os jovens da geração z marretando tudo e todos, às vezes desconstruindo ideias e personagens que nem leram, sequer ouviram falar. Foi por essa via de escape que começaram os cancelamentos e a mania de rotular autores antológicos de racistas, homofóbicos, comunistas e outras adjetivações ainda mais tenebrosas.

Resumindo a ópera: o brasileiro lê mal, lê pessoas que não deveriam - em tempo algum - se dizer autores, lê (ainda) muito pouco e levaram essa cultura da desinformação, da prepotência e do achismo para a internet. É verdade que alguns booktubers tentam elevar a cultura livresca a outros níveis (eu mesmo, volta e meia, frequento os canais de alguns, muito bons por sinal), mas a travessia ainda é árdua e a bem longo prazo. 

Há um lado meu que deveria se sentir grato pelo façanha de sermos a Capital Mundial do Livro esse ano, mas - e sempre há um mas em se tratando de Brasil - não consigo deixar de ter também um olhar de deboche com a escolha. Sério? Um povo que lê tanta bobagem compõe a capital mundial do livro? Ah! As decisões políticas! 

E olha que eu nem falei do culto aos quadrinhos pós advento da Marvel e da DC nos cinemas. Enfim...  

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