sexta-feira, 27 de junho de 2025

De virgem não tem nada


É impressionante o que essa nova geração vem fazendo com a música nos últimos anos...

A cantora neozelandesa Lorde acaba de lançar seu mais novo álbum e deu a ele o título de Virgin. E isso, após eu ter ouvido todas as faixas, é uma puta ironia. No melhor ou pior sentido da palavra, dependendo de como você reagir às intenções do trabalho. 

Em muitos dicionários e sites de busca da internet encontraremos a definição de virgem como algo em torno de "um virgem é uma pessoa que nunca teve relações sexuais. O termo também pode ser usado para descrever algo que nunca foi usado ou explorado, como um terreno ou floresta virgem". E é justamente no trecho marcado em negrito que recai a grande polêmica do álbum.

Virgin, de Lorde, não parece realmente feito por uma artista que ainda não desbravou, explorou ou usou caminho algum. Pelo contrário. Ela defende aqui, em suas letras, ideias bastante afeitas à mulheres já com uma estrada bem definida. Acho até que pelo tema do disco ele merecia uma abordagem menos techno, mais humana (com uma banda). Ela parece aqui, a todo momento, um tanto quanto deslocada da realidade, perdida em meio às próprias emoções. Algo certamente vivido por quem já quebrou a cara, experimentou derrotas ao longo do percurso.

Vejo em suas canções discussões como a ausência de amor e afeto (em alguns casos, até conexão com o resto da sociedade); uma pessoa que usa a fumaça ou espelhos como esconderijos para que os demais não percebam quem ela realmente é; uma renascida após a morte do próprio ego; alguém que não dorme, não sonha, e tudo - absolutamente tudo - faz sua pulsação acelerar; etc...

Talvez eu não tenha entendido as ambições desse novo trabalho, mas... não parece que Virgin seja uma boa escolha para entitulá-lo. Talvez redenção fosse um título melhor. 

O problema: Lorde é a cara dessa nova geração de fãs - a tal geração z - na qual tudo incomoda, ofende, irrita e a palavra profundidade parece cada vez mais não ter espaço no meio social. Uma pena. Ela tem uma boa voz, que poderia estar a serviço de uma nova proposta musical (e o mercado fonográfico anda precisando disso nos últimos anos - e muito!). Infelizmente, parece ter preferido a contradição. E nada é mais século XXI do que isso.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

A Capital irônica do Livro


O Brasil é realmente um país repleto de ironias...

Vejo somente agora a notícia de que o Rio de Janeiro foi escolhido pela UNESCO como Capital Mundial do Livro para o ano de 2025, marcando a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa recebe este título. E a sensação que me fica é: vivêssemos num país desenvolvido essa seria uma notícia esplêndida. O problema? Não somos. Na verdade, o conceito de leitor nesse país é um tanto quanto deturpado.

Falar que o Brasil é um país de "não-leitores" é praticamente uma frase clichê. Contudo, nas últimas décadas, nos tornamos leitores de coisas deploráveis e de gigantescas demagogias literárias. 

Os leitores de bíblias (leia-se: aquele que lê o livro sagrado ao pé da letra e entende uma deformação dos fatos) cresceu muito com a ascensão de certas vertentes religiosas. E acreditem: isso não é nada bom, ainda mais se tratando de uma sociedade fascinada por Fake News e figuras públicas contraditórias. 

Somem a isso os modismos temporários, aqueles que vêm e vão, quando não vêm e ficam estabelecidos de uma vez. Já houve época de cultuarmos o almanaquismo (era um tal de almanaque dos anos 70, 80, 90, do fusca, de seriados, de cinema, etc... que chegava a deixar os leitores perdidos em meio a tantos lançamentos efêmeros). Depois a cultura norte-americana inventou os Young Adults (nunca entendi qual o problema da expressão literatura infanto-juvenil... Não me soava agressivo o título!) com livros voltados para um público jovem cheio de manias e mimimis. Atualmente, parece que só se fala nisso. E não se esqueçam dos famigerados livros de colorir (sim, pois o mercado editorial - que vive em crise, segundo eles próprios - precisa sobreviver).

Os clássicos ainda têm o seu público cativo. O problema 2: os jovens da geração z marretando tudo e todos, às vezes desconstruindo ideias e personagens que nem leram, sequer ouviram falar. Foi por essa via de escape que começaram os cancelamentos e a mania de rotular autores antológicos de racistas, homofóbicos, comunistas e outras adjetivações ainda mais tenebrosas.

Resumindo a ópera: o brasileiro lê mal, lê pessoas que não deveriam - em tempo algum - se dizer autores, lê (ainda) muito pouco e levaram essa cultura da desinformação, da prepotência e do achismo para a internet. É verdade que alguns booktubers tentam elevar a cultura livresca a outros níveis (eu mesmo, volta e meia, frequento os canais de alguns, muito bons por sinal), mas a travessia ainda é árdua e a bem longo prazo. 

Há um lado meu que deveria se sentir grato pelo façanha de sermos a Capital Mundial do Livro esse ano, mas - e sempre há um mas em se tratando de Brasil - não consigo deixar de ter também um olhar de deboche com a escolha. Sério? Um povo que lê tanta bobagem compõe a capital mundial do livro? Ah! As decisões políticas! 

E olha que eu nem falei do culto aos quadrinhos pós advento da Marvel e da DC nos cinemas. Enfim...  

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Tubarão, 50 anos, quem diria...


Leio rapidamente em sites sobre cinema que o clássico Tubarão, longa de Steven Spielberg, completou 50 anos de existência. Quem diria... Já escrevi sobre o filme aqui neste blog por conta de outra data comemorativa da produção, mas acabei - mais uma vez - reassistindo essa pérola e decidi fazer uns pequenos comentários acerca dele. De novo.

Considerado pelos norte-americanos como o "pai dos blockbusters", o filme sobre o cachalote assassino que assombra os banhistas da cidade de Amity é realmente um marco da história de hollywood. Numa época em que a própria população sequer cogitava sair de casa para ir ao cinema no período do verão, Tubarão rompeu barreiras e, mais do que isso, ditou uma cultura que é seguida até hoje pela indústria cultural made in USA.

Acompanhamos o trio de caçadores composto por Roy Scheider, Robert Shaw e Richard Dreyfuss à caça da vil criatura e tudo aquilo ainda parece tão atual... Nem parece que aquilo tudo foi produzido nos anos 1970!

São muitas as histórias loucas sobre a produção do filme, principalmente as que envolvem o tubarão mecânico usado nas filmagens (e que não queria ficar submerso na água de jeito nenhum). Dizem até que o diretor deu ao bicho o nome do seu advogado, de tanta raiva que tomou dele por deixá-lo sempre na mão nas cenas de ação.

Por mais que o gênero que ele se tornou (hoje em dia nos referimos a esses filmes como um verbete próprio na história do cinema) já tenha me feito assistir inúmeros projetos, nenhum deles chegou sequer perto dessa façanha promovida por Spielberg. Aliás, recomendo toda a sua produção cinematográfica realizada na década de 1970. Foi um período inigualável dentro da carreira dele. 

E como não tenho muito mais a dizer além do que já foi dito no post anterior (desçam a barra de rolagem e o procurem!), é curioso pensar que hollywood nos últimos anos é mais lembrada pelos clássicos que comemoram datas de impacto do que pela própria produção recente. E uma pena também, é claro!

A sétima arte americana precisa buscar um novo caminho, urgentemente...


quarta-feira, 11 de junho de 2025

Quando os anos 1980 eram demais


Fiquei realmente indignado com o diagnóstico de Parkinson do cantor Morten Harket, vocalista da banda de rock A-ha, anunciado na mídia nos últimos dias. Na verdade, ando indignado nos últimos anos com a constância com que vem morrendo os grandes ícones do rock nos últimos anos. Uma tristeza para quem é fã do gênero e de uma época que, infelizmente, parece que não voltará mais (espero estar redondamente enganado!).

E eis que me deparo também com a notícia de que o clássico álbum de estreia da banda, Hunting high and low, completa quatro décadas de existência esse ano. Uma memorabilia deliciosa para os fãs de um período deveras nostálgico e repleto de influências irônicas, instigantes, viscerais. Mais que isso: a década de 1980 foi praticamente uma viagem a uma terra desconhecida, um elo perdido cultural.

E Hunting high and low tem o espírito dessa época ímpar. Quando começamos a ouvir a faixa de abertura, "Take on me", já vislumbramos um prenúncio do que será essa experiência. Eu era estudante do CCAA no período em que o grupo estava em evidência e lembro dos estudantes cantando suas músicas nos corredores do curso.  

Eles ainda deram as caras por aqui na segunda edição do Rock in Rio, ocorrida no Maracanã em 1991, em meio a atrações como Billy Idol, Joe Cocker, Prince, George Michael, Santana e outras feras, para o delírio das mocinhas, apaixonadas pelos integrantes, e também dos demais fãs, que compravam revistas e qualquer outro material sobre o grupo nas bancas (um fetiche muito comum naqueles tempos).

Além de "Take on me" e, claro, da faixa título, vale a pena ouvir e reouvir a ótima "The sun always shines on TV" e "Love is a reason", que volta e meia entram na lista de greatest hits da banda.

Ouvido (novamente... acho que pela, sei lá, nonagésima vez) o clássico álbum, fica aqui minha torcida por Morten. Que ele consiga conciliar sua carreira com as limitações - óbvias - que advirão de sua condição e que o A-ha ainda nos presenteia com boa música. Pois isso, com certeza, eles sabem fazer.