sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Enlouquecemos de vez


Outro dia desses me peguei conversando sozinho no meio da sala de casa (e eu tenho feito muito isso nos últimos anos!) e cheguei a uma conclusão óbvia, mas incômoda: é nítido, pelo menos para mim, que a sociedade contemporânea se comporta neste primeiro quinto do século XXI como se o mundo fosse uma grande festa que nunca termina. Podem me chamar de maluco se quiserem, mas isso é um fato: nunca antes na história da humanidade tratamos a vida como uma grande celebração sem hora para acabar como fazemos hoje em dia. 

Por onde quer que se olhe vemos raves em praias da zona sul carioca repletas de adolescentes viciados em ecstasy e dançando, quase em catarse, ao som de músicas eletrônicas que mais parecem lobotomizar as mentes desses frequentadores (tenho um colega que defende a ideia de que o Ministério Público deveria investigar de perto essas "festas" e, honestamente, não discordo dele). Em outros países proliferam festivais de música, regados a adrenalina, tumultos e, de vez em quando, até terroristas atirando contra a plateia. Nos chamados reality shows os dias de maior audiência do público são aqueles em que as festas acontecem noite adentro, com muito bebida, dj tocando música alta e sabe-se lá Deus mais o quê. E isso para ficar apenas no óbvio, porque o contexto é bem mais amplo do que isso. 

Não se trata apenas de modismo ou diversão. Não, meus caros amigos e leitores! É um estilo de vida. Um modus operandi para que segmentos da sociedade não se comprometam com aquilo que nós, seres normais, costumávamos chamar de vida real. Você sabe: trabalhar, pagar a contas, etc. Em entrevista antiga para o programa Sem Censura o cantor Guilherme Arantes falou sobre isso e ficou meio estarrecido ao perceber o nível de alienação e desinteresse da humanidade por qualquer coisa que tenha a mínima relevância para o mundo. Caro, Guilherme! Você não é o único...

Esta semana enfim consegui assistir Clímax, do provocador e diretor de cinema argentino Gaspar Noé (de filmes polêmicos como Irreversível e Enter the void) e fiquei pensando mais uma vez no quanto estamos caminhando para uma sodoma e gomorra de proporções surreais. Em algum momento, por mais triste que seja dizer isto, a sociedade descarrilou do tempo e espaço e hoje encontra-se perdida, sem referenciais ou jornadas a serem seguidas. Pior: ainda por cima se orgulha disso e vende tal atitude como a mais acertada para sobreviver ao dia ao dia. 

O longa conta a história de um grupo de dançarinos que se reúnem num prédio para festejar. O quê, exatamente, não fica bem claro (e esta não é a questão que move o roteiro da história). O que importa mesmo é a pista de dança. E lá que eles são os reis da noite, liberam suas endorfinas, podem ser livres como em nenhum outro lugar. Antes de suas apresentações, eles confessam em entrevistas o que a dança representa para eles. E, em alguns casos, há quem diga que até se mataria se ela não fizesse parte da sua vida. 

O grupo - é bom que se diga em sua defesa - é talentoso e sabe fazer aquilo à que se pretende. Porém, entre uma dança e outra, conversam, expõem suas mazelas, seus preconceitos, seu sexismo, sua vontade de serem melhores do que realmente são. Em outras palavras: expurgam o niilismo de uma geração que não tem de fato para onde ir, daí a necessidade da dança como mecanismo de defesa para enfrentar o mundo selvagem lá fora. 

O problema: a acusação de que a bebida da festa teria sido batizada com LSD promove uma retomada nas intenções do grupo naquele lugar. E a partir do momento em que os primeiros dançarinos começam a demonstrar sintomas de que algo não está bem, o que vemos a seguir é uma grande metonímia para entendermos o que está acontecendo com a humanidade neste século. 

Brigas sem sentido, rivalidades amorosas, discussões entre familiares, a excitação tomando um viés incontrolável, uma mãe que tranca seu próprio filho pequeno numa sala onde ficam os disjuntores do prédio (aliás, quem realiza uma festa deste porte enquanto toma conta do filho de, o quê, 8, 9 anos? e foi quando me dei conta deste aspecto que comecei a entender no que se transformaria este cenário, até então, divertido), correria, em suma, gente enlouquecendo da maneira mais gratuita e bárbara. 

Clímax guarda em si uma estrutura narrativa que me lembrou dos longametragens Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles e Mãe!, de Darren Aronofsky. A diferença é que, enquanto no primeiro os personagens estão cegos por uma circunstância misteriosa - chamada de treva branca -, e no segundo o que motiva a barbárie e o desespero humano é a falta de religiosidade, aqui o que vemos é um escolha de vida que visa unicamente parâmetros estéticos. E me pego refletindo: que mundo é este em que a derrota e a miséria humana têm o semblante do entretenimento?

Por fim, o que vemos é um mundo de ponta a cabeça (e isso é mostrado de forma inteligente pelo diretor) com "sobreviventes" que mais parecem animais estilizados, reagindo instintualmente ao invés de pensar de forma lógica. 

A grande mensagem que Gaspar Noé deixa para este que vos escreve é: espero que a sociedade como a conhecemos acorde. O quanto antes. Estamos nos transformando numa espécie de idiocracia movida a prazeres efêmeros e alucinógenos, onde o conceito de lucidez deu lugar a um apetite voraz por tudo aquilo que é polêmico, proibido e carnal. E a continuarmos por esta trilha nonsense só nos restará reconhecer que enlouquecemos de vez e desistir do lugar onde vivemos, pois não haverá mais nada pelo que as próximas gerações possam lutar. 

P.S: desde já adianto: eu não quero estar aqui para ver isto. Não mesmo. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Uma divina comédia visual


Eu tive uma fase que começou na minha adolescência de leitor doentio de romances policiais. E isso durou um longo tempo. Lia autores de países que eu nem fazia ideia que possuíssem uma literatura voltada para o crime e investigações. Dentre os artistas desse segmento que mais gostei um deles nunca me saiu da cabeça por um motivo inusitado: seu nome é Michael Connelly e seu policial costumeiro costumava se chamar Hieronymus "Harry" Bosch. E a curiosidade é que Hieronymus Bosch é o nome de um pintor e gravador dos séculos XV e XVI, conhecido popularmente como El Bosco. 

Bastou eu dar-me conta desta descoberta e fui atrás de livros sobre o pintor em diversas bibliotecas, livrarias e principalmente sebos no centro da cidade. E eis que me deparo com sua obra O jardim das delícias, feita entre os anos de 1503 e 1515 (período conhecido como renascimento nórdico) que me deixou - e me deixa até hoje - embasbacado.  

O jardim das delícias é um trabalho de conotação bíblica (e isso é, por si só, razão para que os religiosos mais extremistas fiquem com uma pulga atrás da orelha antes mesmo de verem a tela). Contudo, é - a meu ver - uma das maiores pinturas já realizadas na história da arte. Toda feita em carvalho e tinta a óleo exibe o retrato de uma humanidade corrompida por escolhas fúteis e desesperadas. 

El Bosco, por sinal, viveu uma vida difícil, numa época cruel marcada pela fome, a peste e a guerra. Eram tempos de civilização olhando para os céus e perguntando: "por que Deus simplesmente se esqueceu de nós?".

O tríptico mostra já na suas portas exteriores um globo terrestre ou o universo como criação máxima de Deus. Enquanto isso, na parte interior do quadro ele divide a pintura em três painéis dedicados ao pecado da luxúria. 

O da direita representa o paraíso e remete ao sexto dia da criação quando Deus já havia criado todas as espécies animais e também o homem. Adão e Eva estão aqui mostrados desde sua concepção (Adão, por sinal, é o único personagem em toda a pintura que se encontra vestido). A serpente e o fruto proibido, que fizeram com que o casal fosse expulso do paraíso também estão aqui descriminados. É quando Eva vira a mãe do pecado, bem como todas as mulheres posteriormente. 

No painel do meio vemos a caverna para onde Adão e Eva são mandados após a expulsão do paraíso (e é praticamente impossível para mim não fazer uma correlação com a Alegoria da caverna, de Platão, um mundo de pessoas cegas e covardes, que adoram rotular os corajosos de traidores e/ou malignos). Vemos o banho de Vênus, repleto de mulheres nuas, motor dessa luxúria descabida. É visível aqui o típico comportamento da sociedade patriarcal onde a mulher é culpada de todas as más decisões já tomadas no mundo. A água tem uma forte carga sexual, bem como os homens que cavalgam seus cavalos por toda a tela (aliás, as expressões cavalgar e copular têm simbologia idêntica). E aquilo que Deus pregara como "crescei-vos e multiplicai-vos" é mal interpretado, pois não há interesse da sociedade em qualquer tipo de reprodução, mas apenas de relações carnais e prazerosas. Por isso, Bosco pinta todas as perversões e fantasias propostas pelo sexo. Eu sei... Vai ter gente cristã chamando a tela de pagã. 

Já o painel da esquerda representa o inferno musical (chamado assim, pois a luxúria era conhecida naquela época como a "música da carne"). Os instrumentos - o alaúde, a harpa, o órgão, etc - aqui são representados como instrumento de tortura, enquanto Satanás com sua cabeça de pássaro encontra-se sentado numa privada e devora condenados e infiéis, que são transformados em excrementos (ali, naquele ponto negro da pintura - vide a mudança na paleta de cores - o comilão vomita e o avarento defeca). As cidades, incendiadas, reflexo da penúria, convertem água em sangue. A humanidade encontra-se perdida definitivamente (por isso, as orgias diabólicas presentes neste segmento). Contudo, alguns especialistas em história da arte dizem que na expressão triste do homem-árvore (um paralelo com a natureza arruinada? quem sabe...) vemos um autorretrato do pintor. 

Após tanto detalhismo e múltiplas cores (se existe uma pintura que sempre me chamou a atenção pelo contraste de cores, indo do glamour à escuridão, é esta aqui) o que percebo em O jardim das delícias é que se trata, isso sim, de uma tela profética que antevê o mundo em que vivemos neste século XXI claustrofóbico e mais preconceituoso do que nunca. 

Talvez a humanidade nunca venha a estar preparada para entender uma mentalidade tão genial quanto à de Hieronymus Bosch, com suas opiniões polêmicas, por vezes controversas. Mas, posso dizer isso de carteirinha, se eu consegui descobrir um talento desses, pouco conhecido por aqueles que nada entendem de história da arte através unicamente do nome de um personagem numa novela policial, podem ter certeza: Shakespeare estava certo. ´"Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens é capaz de imaginar". 

A tela de Bosco é quase uma Divina Comédia visual, tamanho o seu vislumbre. E toda vez que me deparo com algo tão deslumbrante, me pergunto: o que acontece com nossa sociedade, incapaz de identificar a genialidade e a beleza, e perder tempo com tanta futilidade? 

Que um dia, meu Deus, que permitiu o nascimento deste homem, dotado de tamanha sabedoria para entender o mundo, consigamos reverter este processo indigno de alienação e ostentacionismo pelo qual passamos atualmente!!!

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O transgressor


"Há um quê de charme e de ousadia em muitos criminosos que entraram para a história da humanidade. E muito por causa disso é até compreensível que alguns deles sejam vistos, pelo menos por determinados setores da sociedade, como celebridades instantâneas". Recorro à esta citação, encontrada num dos meus cadernos de anotações da época da faculdade, cheios de informações subtraídas de palestras, cursos e seminários do qual participei, para elucidar aos meus leitores a minha relação com o que costumamos chamar de banditismo. 

Quanto mais idade vou adquirindo, mais entendo o quanto criminosos são figuras complexas, que vivem a sua própria moral, não se submetendo de forma alguma ao sistema como o conhecemos. Eles são transgressores por natureza e, no final das contas, não passa de perda de tempo da parte moralista da sociedade querer adequá-los a algum tipo de comportamento, digamos, ético. 

Esta semana deparei-me com uma joia do cinema argentino contemporâneo que trata justamente de questões como essas abordadas nos parágrafos anteriores. Trata-se de O anjo, de Luis Ortega (que tem produção de, entre outros, o extraordinário Pedro Almodóvar). E assim que os primeiros créditos começam a surgir na tela após o final da sessão, pego-me pensando: "por que o cinema hollywoodiano não consegue, na maioria das vezes, esmiuçar o mesmo assunto com tamanha maestria, sem deixar de lado os tiroteios, os efeitos especiais e o sensacionalismo?

O anjo conta a história de Carlos Brown (vivido pelo excelente ator Lorenzo Ferro em seu primeiro trabalho para o cinema). Por trás de seus olhos sedutores e pueris e o corpo de um adolescente em formação há um marginal especialista no que os americanos costumam chamar de breaking and entering (ou, como conhecemos em nossa língua natal: invasão de domicílio). E ele exerce sua "arte" - pelo menos, ele trata seu ofício como se fosse uma - com uma naturalidade gigantesca. 

Contudo, sua vida esbarra com a do também jovem Ramón Peralta (Chino Darín) e sua família criminosa. E é a partir desse convívio e do seu afastamento cada vez mais recorrente de casa que ele começa a se desdobrar num pilantra profissional. Desde o simples ato de aprender a atirar até a facilidade com que consegue invadir lojas de armas, joalherias e residências particulares, Carlos vai mostrando com extrema minúcia para os espectadores a reconstrução de seu caráter (já ambíguo), sofisticando-o com práticas mais e mais subversivas. 

Elucidando os fatos de outra maneira: Carlos é o modelo típico de transgressor, daquele que não se submete a nenhum tipo de ordem social e faz de sua própria personalidade um desafio a ser decifrado pelos demais. Sempre com um sorrisinho sardônico no rosto e opiniões que incomodam aos mais conservadores, ele segue importunando a sociedade com seu temperamento fora do tom. E deixando todos - inclusive seus próprios pais - perplexos. 

Adorei a ideia da trilha sonora rock n' roll aparecendo em momentos pontuais do longa, em que os personagens se deparam com as decisões mais difíceis e agressivas de suas vidas. E também achei extremamente inteligente da parte do diretor o uso dos closes nos lábios do protagonista toda vez em que ele se defrontava com imagens e pessoas capazes de provocar a sua libido (e nesse momento, é fácil de entender porque Almodóvar aceitou produzir o projeto). 

Há um forte apelo em Carlos que me fez lembrar de Louis Bloom, personagem do ator Jake Gyllenhaal em O abutre, filme do diretor Dan Gilroy. A diferença é que lá o personagem utilizava-se da indústria midiática e sua eterna relação de devoção com a tragédia e o mórbido para produzir suas artimanhas. Já aqui, a motivação do protagonista é mais pessoal e não voltada para algum tipo de projeção social ou ostentacionismo. 

No passado pessoas como Carlos seriam rotuladas facilmente como rebeldes sem causa. Pelo contrário. Ele é um rebelde COM causa. O problema é que sua causa é justamente a de não pertencer ou ser subserviente a um sistema de ideias, mas sim subvertê-las e isso sempre irá incomodar a parte mais conservadora da sociedade (portanto, ela nunca conseguirá entendê-lo completamente). 

Termino de ver a película num misto de alegria e apreensão. Alegria pelo fato de estar diante de uma das melhores realizações cinematográficas com que me deparei neste ano e apreensão por sentir que daqui para frente a sofisticação entre o mundo criminoso vem crescendo tanto que daqui para frente teremos enorme dificuldade de distinguir cidadãos de bem de bandidos (tamanho o charme que envolve os membros da segunda categoria). E isso é muito grave. 

E refém de minha dúvida entre aplaudir e ficar temeroso sobre o futuro da humanidade, chego à conclusão óbvia: mais uma vez a sétima arte fez um gol de placa, pois ela também transgrediu a ordem natural dos fatos de forma tremendamente elegante. 

Logo, uma salva de palmas para ela!

sábado, 14 de setembro de 2019

Não era apenas um garoto de Seattle


O mundo do rock é famoso por ícones desajustados, fora da zona de conforto, e por fãs que muitas vezes enxergam além dos fatos e da própria fama, criando em alguns casos "monstros ideológicos" que por mais que você, leitor, seja fã, não consegue entender o porquê de tanto fanatismo por trás de certas figuras midiáticas. Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, morto em 1994 aos 27 anos, é a meu ver um dos melhores exemplos dessa paranoia sensacionalista que rege o mundo do show business.

Termino de assistir Cobain: montage of heck, documentário de Brett Morgan realizado em 2015 e que traz um mosaico de referências e entrevistas com parentes e amigos do cantor, visando entendermos a mente complexa por trás do rockstar responsável por hits como "smells like teen spirit" e "come as you are". Quando exibido nos cinemas por aqui não consegui assistí-lo, muito por conta do exagero em termos de paixão provocado pelos fãs da banda, que praticamente compraram todos os ingressos disponíveis na época. Contudo, para minha sorte, deparo-me com um dvd do filme esquecido numa das prateleiras das Lojas Americanas (sim, às vezes cinéfilos também precisam ter sorte!). 

Cobain: montage of heck é o retrato vivo e turbulento de uma da mentes mais criativas - segundo os depoimentos dados no doc - da década de 1990, e visto por muitos como "o último gênio da história do rock n' roll". Honestamente? Não acho para tanto. Nunca considerei Kurt Cobain um dos maiores da história no gênero e digo mais: após sua morte e todas as leituras que fiz sobre ele, considero-o mais um subversivo do que um artista. Vai ter gente me chamando de maluco por aqui, mas sorry! estou sendo profundamente honesto. 

Kurt foi um garoto de Seattle extremamente hiperativo (palavra dos próprios familiares) e estava sempre procurando uma forma de canalizar sua energia para algo construtivo. Acabou por escolher o rock que, cá entre nós, responde bem a seu temperamento por vezes nonsense, por vezes anárquico. Contudo, segundo suas próprias declarações no filme, não se via como uma figura ícone de uma década e não gostava da ideia de ser porta-voz de uma geração adolescente descrente com os rumos da América (tanto que por várias vezes questionou o governo Reagan não para usar sua fama num contexto político ou para angariar elogios, mas simplesmente porque discordava do caminho político proposto por ele). 

Em meio a vídeos de seriados antigos e desenhos bizarros da lavra do próprio artista (aliás: Cobain era fascinado por tudo aquilo que flertava com o mórbido e o sobrenatural, e deixava isso claro até na maneira como cantava: sua voz era praticamente um grito, um grunido) vemos um roqueiro fascinado pelo conceito de distorção. Ouçam, quando puderem, o álbum Nevermind e entenderão o que estou dizendo. Ele está repleto de sons guturais e berros ensandecidos, que viraram meio que a marca registrada do vocalista do Nirvana. 

Por sinal, o próprio nome da banda reflete muito da personalidade do cantor. A palavra, que dentre muitos outros significados, representa "estado de libertação", dialoga como poucas para entendermos o estado irrequieto de Kurt, que todas as vezes que eu via se apresentar em clipes na MTV me passava uma ideia de eterno descontente com a vida e com aquilo que chamamos rotineiramente de rotina. 

Em outras palavras: Kurt Cobain era um dínamo que não conseguia ficar parado mesmo que quisesse. Havia sempre algo o movendo para frente, numa quase velocidade da luz. 

A partir do momento em que seu relacionamento conturbado com Courtney Love exerce protagonismo na película vemos a mudança de comportamento do cantor mudar. É o começo de sua derrocada, do físico debilitado, de seus exageros no palco. Não é à toa que muitos fãs até hoje a considerem a verdadeira responsável pela morte do artista (e só para se ter uma ideia do clima: há sites e teorias na internet que explicam com riqueza de detalhes sua participação no "crime"). 

Polêmicas à parte, uma coisa é certa: os fãs irão se deliciar ao som das apresentações catárticas e das imagens de arquivo guardadas pela família, mostrando momentos da carreira que os fãs normalmente não teriam acesso. Nesse sentido, o longa é um colírio para os olhos. 

Se por um lado continuo não colocando Kurt Cobain e o Nirvana no meu hall da fama do rock n' roll por considerá-los excêntricos em demasia para o meu gosto, por outro entendo todo o delírio e a alienação criados pela indústria cultural para transformá-lo num quase gênero musical. E mesmo sua presença naquela famigerada lista - praticamente uma lenda urbana - dos astros mortos aos 27 anos (juntos com Janis Joplin, Amy Winehouse, Jimi Hendrix, entre outros) é apenas uma mera cereja no bolo. Cobain vende como imagem até hoje e a indústria fonográfica agradece, é claro! 

Lembram quando eu disse no quarto parágrafo que "Kurt foi um garoto de Seattle..."? Talvez para as pessoas normais e aqueles que não são fãs de rock essa definição baste. Mas na prática ele não foi somente isso. Kurt Cobain é uma figura do showbiz que ainda não foi totalmente decifrada. E talvez nunca venha a ser. E essa, por incrível que pareça, é sua melhor característica. Tanto que os fãs continuam falando dele até hoje.

Fenômeno. Invenção midiática. Gênio. Nunca saberemos até onde ele poderia ter chegado (se teria chegado). E não adianta chorar sobre o leite derramado. Já foi. Só nos resta, no final das contas, acompanhar o que sobrou: seu legado musical. 

E torcer para que um dia essa dúvida possa ser respondida.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O passado sempre retorna


Não acredito em pessoas que defendem a ideia de que "é melhor deixar o passado no passado, pois é menos doloroso". Aquela frase hipócrita, então, "o que aconteceu em Las Vegas fica em Las Vegas" nem se fala! Contudo, a humanidade é complexa demais para entender que o passado, muitas vezes, é uma grande catarse para entendermos o nosso próprio amadurecimento, lidar com velhas feridas, rediscutir amizades ou relacionamentos amorosos que terminaram mal. 

Esses, por sinal, são temas que volta e meia aparecem nos romances do ficcionista norte-americano Stephen King - autor de sucessos de público como O iluminado, A hora da zona morta, Christine, Carrie - a estranha, entre tantos outros -  e também em roteiros célebres filmados em hollywood. Pois bem: esta semana estreou nos cinemas It: capítulo dois, continuação do longametragem It: a coisa (filmado em 2017), ambos dirigidos por Andy Muschietti, e que é justamente uma mescla desses dois mundos. 

A história do clube dos perdedores, formado por Beverly Marsh, Bill Denbrough, Richie Tozier, Mike Hanlon, Ben Hanscom, Eddie Kaspbrak e Stanley Uris, que se deparam com o terrível palhaço Pennywise (trabalho de atuação irretocável do ator Bill Skarsgard) a atormentar suas vidas e fazem um juramento de regressar à sua cidade natal caso ele apareça de novo para destruir novas vidas é muito mais, a meu ver, do que mero terror na linha Jogos Mortais e filmes na linha slasher (Halloween, A hora do pesadelo, Sexta-feira 13, etc). 

O que se vê nas mais de mil páginas do romance visceral e nas duas partes da saga transposta para os cinemas é uma grande alegoria sobre o medo e as consequências das escolhas que nós, seres humanos, fizemos no passado. Aliás, nada é mais verdadeiro quando o assunto é evolução humana do que a máxima "o passado sempre volta para assombrar-nos, nem que seja um pouco". O problema é que, na maioria das vezes, entendemos essa máxima ao pé da letra e levamos sempre a discussão para o âmbito do místico, do sobrenatural (motivo pelo qual estou sempre abandonando certos debates ou conversas em grupo por considerá-los vagos, muitas vezes sem a menor lógica). 

O tempo passou para o grupo e deixou marcas indeléveis, fruto de más escolhas feitas numa época em que ainda não temos a maturidade necessária para tomar decisões tão taxativas. E muito por conta disso é facilmente entendível o porquê de Beverly (na idade adulta, vivida pela belíssima Jessica Chastain) ter se tornado refém de um relacionamento amoroso abusivo, Sua relação fragmentada com o pai contribuiu - e muito! - para isso. Outro bom exemplo é Richie (em sua versão mais velha, interpretado pelo ator Bill Hader) que passou de garoto descolado, o mais debochado da turma, a comediante de stand-up frustrado e viciado em bebida. Some a isso o desejo de Ben (Jay Ryan) por sair da figura de gordinho para construir um físico invejável e uma carreira bem sucedida e a carreira de escritor em crise de Bill (James McAvoy) e teremos um grupo que mais parece uma família disfuncional. Talvez o único que tenha conseguido, em parte, preservar um pouco de sua lucidez seja Mike (Isaiah Mustafa), o único que permaneceu na cidade após mais de duas décadas. Porém, não se iluda totalmente. Isto também pode ser uma máscara.

O retorno de Pennywise aflora nas mentes e no corpo do grupo, que sente a presença maligna dele até mesmo em seus inconscientes. A figura do palhaço serial killer é quase freudiana, mexe com os sentimentos mais obscuros trancados a sete chaves por cada um deles. E à medida que o combate final se aproxima a forma como cada um deles lida com o medo é significativa no que tange a relação de suas próprias vidas com o passado que não lhes trouxe boas recordações (e, por isso, eles preferem manter eternamente lacrado) e o presente, que precisa ser revisitado para que eles não passem o resto de suas vidas se lamentando sobre aquilo que não aconteceu. 

Em outras palavras: o palhaço nada mais é do que um instrumento de purificação de suas existências. Por mais mal que ele lhes cometa, é preciso que o grupo veja o outro lado da situação e encare o arqui-inimigo como uma bússola, pois só assim eles construirão um novo caminho para suas vidas. 

Fico feliz de ver que o gênero terror, nos últimos tempos, tem se proposto a rediscutir dilemas sociais, dramas humanos, o próprio conceito de mercado corporativo, etc. Prova viva disso nos últimos anos são os filmes Nós, de Jordan Peele e Suspiria, de Luca Guadagnino, dois exemplares raros no segmento que fogem da receita "vamos assustar o público enchendo a nossa história das mortes mais bizarras". Ouvi falar num site sobre cinema que alguns críticos vêm chamando essa abordagem de Neo horror. Cá entre nós, gosto muito dessa postura. 

E mais: na época em que assisti It: a obra-prima do medo, minissérie realizada pela Warner Bros em 1990 sobre o mesmo livro e dirigida por Tommy Lee Wallace não consegui absorver com a mesma precisão 10% do que destrinchei aqui neste artigo. Ou seja, a obra em questão evoluiu bastante com o passar dos anos e não é à toa que Stephen King se tornou o fenômeno pop que se tornou (um dos escritores mais adaptados para a sétima arte de sua geração). 

Termina a sessão e ouço aplausos ao fim do filme, algo raro em se tratando de filmes de terror. Alguns críticos do youtube reclamaram dos excessivos flashbacks e do tamanho exagerado do longa (são quase três horas de duração). Não tive essa percepção e não me senti cansado em nenhum momento. O que vi, na verdade, foi uma história bem contada sobre um livro imenso (o que é sempre difícil de transpor para outros formatos). E voltei para casa, dentro do ônibus, pensando: por que hollywood continua perdendo tempo com tantas bobagens sanguinolentas e não investe mais em projetos como esse? Quero tanto ver A dança da morte numa versão cinematográfica! 

Quem sabe agora eles não tomam vergonha na cara e investem mais nesse ramo...

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Guerra suja


Há dias, confesso, em que tenho vontade de encher uma mochila com algumas roupas, dar uma de Jack Kerouac, e meter o pé na estrada, sem pensar em voltar. Não, é sério mesmo. O Brasil encaretou num nível obsceno e vivemos uma guerra suja onde opiniões as mais diversas são desmentidas para atender a vontade sórdida dos covardes e prepotentes que se acham donos da verdade (e, por isso, pretendem recontá-la a seu bel prazer). Muitos irão dizer logo na abertura deste texto: "isto é papo de derrotista, de quem desistiu da luta". Pode até ser. Mas, sinto muito, que dá vontade de ir embora, de vez, ah dá!

Entretanto, sempre que me encontro nessa versão melancólica da minha vida me deparo com um artista capaz de enxergar a realidade nua e crua, sem medo de apanhar dos eternos moralistas. E ele (ou eles) sempre me fazem repensar minha vida. Desta vez, os responsáveis por isso foram um trio: o roteirista Carlos Eugênio Baptista (mais conhecido no meio quadrinista como Patati), o desenhista argentino Francisco Solano Lopez e o arte-finalista Allan Alex Machado Alves. E a obra em questão é a magnífica graphic novel Sangue bom.

A HQ talvez seja o melhor exemplo que eu li nos últimos anos do que se transformou a cidade do Rio de Janeiro dominada pelo tráfico. E como toda narrativa que expõe o tráfico a nu, é praticamente impossível dimensioná-la a partir de um único protagonista, tendo em vista que em toda guerra que se preze há múltiplas vozes e agentes interferindo no resultado final. 

A maioria das vozes em jogo aqui são de moradores dessas regiões afetadas pela violência urbana e o discurso de ódio desmedido (que ganhou força no país nos últimos anos). 

Portanto, é natural o discurso agressivo e por vezes niilista (no sentido de "sem perspectiva de futuro") de personagens como Severino, dono de mercearia que vê sua vida ser destruída após um grupo de traficantes matar sua esposa e filha numa ação equivocada, levando-o a se tornar, ele próprio, um criminoso; Genilson, praticamente uma versão mais espertalhona de Buscapé, personagem do filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, o garoto faz-tudo da favela, aquele que sabe tudo o que se passa, desde a batida policial até os planos da facções rivais que disputam território no morro; Maricéia, a menina humilde que acreditava ter feito a escolha certa ao entrar para a igreja evangélica, que acaba por descobrir que até mesmo a fé pode ser tendenciosa e sujeita à parcerias sórdidas e coniventes com o mundo do crime; e Caveira e Maguila, os dois expoentes máximos da batalha pelo lucros do crime organizado, levando a cidade à um estado de caos irrefreável. 

E isso apenas arranhando a estrutura dessa realidade vil e sem sentido. 

A obra de Patati, Solano Lopez e Allan Alex esmiuça o retrato monocromático (como as páginas da própria revista, toda em preto-e-branco) de um país que vive se apresentando para a sua sociedade como o país do futuro, mas nunca conseguiu resolver problemas básicos do seu presente, como emprego, moradia, saneamento básico, etc. E a consequência desse desleixo é o estado de sítio em que vivemos, dominado por forças maquiavélicas e a cada dia mais poderosas do que nunca. 

Sangue bom entra fácil para a lista das histórias em quadrinhos que o governo e os deformadores de opinião (tão em voga atualmente nas redes sociais) não querem que você tenha contato. E justamente por isso deve ser lida minuciosamente, como quem lê um bom livro de sociologia urbana. 

Há mais denúncia e verdade aqui do que em muitos tabloides sensacionalistas e discursos políticos que vocês andam ouvindo ou lendo atualmente. E acreditem: isso não é pouca coisa. 

E, no final das contas, se não podemos vencer a guerra suja estampada nas páginas secas e geniais do trio por ela parecer uma grande história da impunidade mal resolvida nesse país, que pelo menos possamos conhecer os fatos, por mais dolorosos que sejam. 

Pois de hipocrisia e lamentações, eu pelo menos ando cheio... 

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Quem manda aqui sou eu


Gosto do diretor Kleber Mendonça Filho. Gosto mesmo. Desde que vi seu polêmico curta-metragem de 2009, Recife frio, percebi que ele era um dos raros exemplares da atual geração do cinema nacional que anda na contramão do circuito. Ou seja: sua primeira preocupação artística não é com bilheterias exorbitantes ou quebra de recordes de público. Pelo contrário. Ele almeja fazer com que seu público pense, reflita sobre os rumos do nosso país. E nos últimos anos ficou clara sua posição antigovernista (vide a repercussão que gerou seu longa anterior, Aquarius, visto como película non grata por muitos brasileiros). 

Falar de um país como o Brasil no cinema sempre será uma tarefa difícil, ainda mais quando o regime vigente no momento está mais interessado em demagogias religiosas e o interesse de nosso principal governante está centrado no poderio militar de outras nações. Contudo, Kleber (desta vez acompanhado do co-diretor Juliano Dornelles) passa por cima de tudo isso - inclusive da possibilidade da Ancine, órgão principal a subsidiar nossas produções cinematográficas, deixar de existir num futuro próximo porque o atual governo quer "moralizar" a produção - e nos apresenta o extraordinário Bacurau, vencedor do prêmio do júri na última edição do Festival de Cannes. 

Fica muito claro para o espectador mais atento aos detalhes e entrelinhas que Bacurau é um filme político (e com muito orgulho de assim ser). A cidade retratada, a oeste de pernambuco, é um retrato da miséria de nossa nação. Uma miséria que os tabloides e nossos dirigentes fazem questão de esconder, preferindo entupir nossas cabeças vazias com partidas de futebol, desfiles de escolas de samba, reality shows e programas evangélicos tendenciosos e efêmeros. Porém, mais do que isso, o longa de Kleber e Juliano é um grito de guerra, um ato de resistência direcionado àqueles que adoram tratar a nossa pátria segundo a ótica do determinismo biológico ("você nasceu pobre, tem que morrer pobre"), só que nos últimos anos acrescida da mentalidade "porque Deus assim quis". 

O nordeste, região do país que se confunde com a própria definição de revolução (procurem os livros de história e vocês entenderão do que falo), está mais do que bem representado pelo longa, seja do ponto de vista cultural como também do reacionário. A roda de capoeira divide o espaço com a matança com uma naturalidade assustadora. Afinal de contas, trata-se de uma região que no passado nos trouxe o cangaço, canudos e tantos outros "rebeldes". Portanto, não há receio quanto a morte (isso fica claro na quantidade gigantesca de caixões que aparecem durante todo o filme), mas sim quanto à pessoas que querem mandar nas suas vidas e tomadas de decisões. 

Acrescentem a isso a velha máxima dos currais políticos que nada fazem por essas localidades a não ser coletar votos, o interesse estrangeiro em se apoderar de nossas riquezas e deletar nossa cultura, o gigantismo da internet no que tange à idolatrar a indústria da violência e perpetuar o descrédito junto a uma população com histórico lendário de alienação e ignorância, e pronto: está criado um cenário de horror e guerra sem precedentes. 

Quanto aos personagens aqui retratados são uma aula de cinema à parte. Destaco a ranzinza, mas não menos fenomenal Domingas (Sônia Braga, realizando um feito que eu jamais imaginei que a dama do lotação do cinema novo seria capaz de produzir), o truculento, mas não menos verídico e necessário Lunga (Silvério Pereira), retrato amargo e viril do homem do agreste cansado de acreditar no sistema corrupto e que decide arregaçar as mangas e tomar a rédea da situação e o "americano por empréstimo" Michael (Udo Kier), simbiose da ganância estrangeira com o eterno discurso do capitalismo como única salvação verdadeira para o futuro do planeta. E quando ele diz que "o mundo está de cabeça para baixo" está sempre se referindo aos outros como errados, nunca ele próprio. 

Bullying racial, desrespeito à cultura, descaso com a educação, a política de castração voltada para todos aqueles que questionam a vontade do Estado como mantenedor da ordem, crítica ao sistema de saúde... Todas essas temáticas se entrelaçam fazendo de Bacurau um faroeste que nada tem de pós-moderno, pois essa região do país nunca recebeu qualquer tipo de tratamento que soasse sequer inovador, que dirá moderno. Trata-se de um microcosmo do país que precisa viver eternamente no passado para que os poderosos continuem se locupletando de sua desgraça social. 

Apesar de ser (até o presente momento, pelo menos) o filme nacional do ano, é visível que ele não atende à grande parte da população nacional. E digo isso porque o Brasil passa por um período de extremo retrocesso, em que cidadãos pedantes e egoístas defendem a ideia de que o passado era infinitamente melhor e nossa história precisa ser recontada à imagem e semelhança deles. Para estes, Bacurau será doloroso, cruel, mentiroso e sujeito à perseguição. E a questão que me paira a cabeça quando penso nisso é: como é que um longa capaz de ganhar prêmio num dos maiores festivais de cinema do mundo e ser reconhecido na Europa pode ser a visão errada dos fatos e uma parcela da sociedade completamente desinformada e por vezes fascista ser a certa? Honestamente... Somos uma sociedade estranha e contraditória! 

Termino a sessão no cinema ciente da triste constatação de que vivemos num país quebrado, dividido por interesses escusos. Aquela velha moral que eu ouvia nos tempos de escola "o problema do Brasil é que tem muito cacique para pouco índio" ganhou sofisticação e um sorriso de deboche no rosto. Fica claro pelo desfecho do longa que seus realizadores defendem que o pior ainda está por vir. Também, pudera! Quando se vive dentro de um Estado onde a moral determinante é a do que "quem manda aqui sou eu" fica complicado acreditar que dias melhores virão (pior: por um momento, chegamos a acreditar que a frase por si só não passa de um clichê vago). 

E isso faz de Bacurau um filme menos poderoso, indigno de nossa presença nas salas de projeção? Pelo contrário. Vá enquanto é tempo. É de mais obras cinematográficas como essa que nossa indústria cultural anda precisando nos últimos tempos. 

O que não podemos mais é acreditar que tudo vai se resolver com o tempo...