terça-feira, 31 de março de 2020

O trovador solitário


Ah se esse cara ainda estivesse vivo no Brasil de hoje!!!

Leio numa matéria do UOL entretenimento que o cantor Renato Russo, outrora vocalista da banda de rock Legião Urbana, se estivesse vivo em 2020 completaria 60 anos. E penso rapidamente quando termino de ler a notícia: "e ele não teria envelhecido um segundo sequer". 

Digo isso porque considero Renato o melhor exemplo de ativista e revolucionário que eu já tive o prazer de prestigiar em toda a minha vida. Não era panfletário ou mesmo defensor (pelo menos, que eu sabia) de qualquer vertente partidarista, muito menos se viu no personagem de guru de toda uma geração - embora, muitas vezes, a mídia tenha vendido essa ideia para os fãs. Mas com certeza sempre teve opinião forte sobre qualquer tema que discorreu ao longo da carreira.  

Autor de mais de 150 músicas, a sensação que eu tenho a priori é que o número parece até menor diante do que eu imaginava até então. Sua figura sempre se mostrou para mim tão gigantesca que eu imaginava sinceramente que ele estivesse próximo das mil canções. Mas não importa. Ele conseguiu fazer mais do menos, do simples, e principalmente de suas convicções e um discurso sempre afiado. 

Já li tanta coisa sobre Renato que fica até difícil indicar leitura para os outros (principalmente os fãs). Contudo, para os leigos da geração posterior a minha que ainda não o conhecem devidamente, recomendo de olhos fechados Renato Russo: o filho da revolução, de Carlos Marcelo (para mim, a biografia definitiva sobre ele) e Renato Russo - o trovador solitário, do colunista Arthur Dapieve (cujo título faz referência ao álbum homônimo gravado pelo cantor e compositor em 1982). Se você, por toda a sua vida, só conseguir ler esses dois exemplares, dificilmente deixará de entender quem foi ele na íntegra, suas paixões, interesses e a dedicação ao trabalho. Procurem.

O artigo do UOL traz a informação de que ele foi regravado por mais de 750 artistas até hoje. E eu acredito (de olhos fechados). Também traz uma lista das dez músicas mais tocadas por ele - solo ou em parceira - entre 2015 e 2019. E nesse momento, confesso que me causou um enorme estranhamento não ver no Top 10 a presença das músicas "Faroeste caboclo", "Geração coca-cola" e Índios" (para mim, três clássicos eternos de Renato). Mas tudo bem. É uma questão de gosto. Liderando a lista, "Tempo perdido". E contra essa informação eu não tenho argumentos. Mesmo. 

Ao lado de Cazuza, Renato Russo fez parte de uma geração que não se limitou a cruzar os braços, dizer amém para tudo (principalmente determinações estatais). Foi um homem avant garde no melhor sentido do termo. Pôs a boca no trombone quando quis e do jeito que quis. No documentário Rock Brasília - era de ouro, de Vladimir Carvalho, é possível vê-lo enfrentando um policial que ameaçava bater num espectador de um show seu. Vejo aquela cena como síntese para entendermos a personalidade desse artista ímpar. 

Independente de suas escolhas sexuais, afetivas, políticas e musicais, o grande barato de continuar ouvindo Renato Russo até hoje é entender que se trata de um homem que não ficou datado, que não parou no tempo, que continua relevante. E muito de sua poesia permanece mais atual hoje do que na época em que se encontrava no apogeu da carreira. E isso, meus amigos, são poucos os que conseguem na indústria fonográfica! 

Precisa de mais? Honestamente, acho que não. O que não precisava (mesmo!) era ter ido embora tão cedo... Grande Renato!

P.S (ou Kit básico): se você, meu querido leitor, não tiver vergonha na cara de ir até o Spotify ou ao youtube agora para ouvir As quatro estações (o de estúdio e o ao vivo) e os álbuns solo The stonewall celebration concert (em inglês) e Equilíbrio distante (em italiano), você não merecia ter lido este humilde artigo. E tenho dito.

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