sábado, 30 de novembro de 2019

O homem que pintava casas


Martin Scorsese, não à toa, nem por acidente, é o grande gênio em atividade da atual hollywood e construiu seu celebritismo tanto através de longas que marcaram época seja por sua visceralidade, seu arrojo estético ou por sua denúncia à religião, como também através de seu trabalho por trás da fundação que criou para restaurar filmes antigos (e este é provavelmente seu maior legado para o futuro do cinema). O mestre, que nos apresentou obras-primas como Táxi driver, Bons companheiros, Touro Indomável, Caminhos perigosos, Cassino, bem como o mais recente e não menos extraordinário O lobo de Wall Street, se consagrou de forma definitiva para muitos por seus filmes de gângster. 

Pergunte a qualquer fanático scorsesiano que você conheça e ele dificilmente deixará de lhe dizer: "...e quando ele faz filme de máfia, de gangue, é outro departamento; o cara é foda! não tem pra ninguém!!!". 

Pois bem: nos últimos anos Scorsese veio deixando seu público mais fanático de lado em prol de outros projetos cinematográficos (alguns não obtiveram o mesmo prestígio de muitos de seus maiores sucessos) e isso os deixou angustiados. Eu, que acompanhei a parceria do diretor com os atores Robert de Niro e Joe Pesci, volta e meia me pegava perguntando: "será que eu ainda vou ter a honra de ver esse trio juntos novamente?". 

E eis que para a minha alegria e a de muitos - e graças também, é claro, à contribuição da Netflix nesse processo - ele realiza O irlandês, seu projeto mais ambicioso em muitos anos. 

Adaptado do romance homônimo de Charles Brandt, O irlandês nos traz a história de Frank Sheeran (Robert de Niro, confortável e em seu elemento, como há bastante tempo não o via nos cinemas), um homem de vida simples que trabalhava como entregador de carne, isso quando não realizava pequenos bicos para sobreviver e sustentar a sua família. Isso até sua vida esbarrar com a do mafioso Russell Bufalino (Joe Pesci) que o contrata para trabalhos maiores e mais perigosos. 

Porém, o que Frank não sabia é que os seus serviços bem prestados e sua discrição chamariam a atenção do todo poderoso do Sindicato dos caminhoneiros, o lendário Jimmy Hoffa (Al Pacino, impecável em todos os sentidos!). Hoffa é um homem controlador, que não gosta de ser passado para trás, muito menos feito de palhaço por quem quer seja. Logo, o contrário de Frank, que prefere permanecer na encolha e observar qualquer situação com cuidado. E dessa parceria inusitada surge uma grande amizade. 

Mais do que simplesmente isso: é através de Hoffa que ele passa a conhecer o mundo podre dos sindicatos, sua ligação com a máfia, o enfrentamento que teve com o governo Kennedy, em outras palavras, a velha indústria da "troca de favores". À medida que vai galgando postos dentro dessa hierarquia, Frank pretere sua própria família, e vai se tornando um homem cada vez mais frio, sem sentimentos. 

E é nesse momento que a genialidade de Scorsese - aliada à monumental edição de Thelma Shoonmaker - ganha corpo. O filme, cheio de digressões e metáforas as mais diversas, delineia o controverso mundo no qual Frank está inserido. E tudo isso muito bem ilustrado por planos-sequência magistrais e cenas em câmera lenta de tirar o fôlego. Dois aspectos me tornaram fã da película logo de cara: os olhares incriminadores de Peggy (Anna Paquin), filha de Frank, que representaram claramente o papel da mulher nesse universo sombrio e a maneira como o diretor desacelera a narrativa - a violência é mais calculada aqui, diferentemente de Bons companheiros e Cassino - com o intuito de revelar para o espectador que se tratam das confissões de um homem envelhecido, derrotado pelo tempo, portanto não há porquê mostrar um barbárie tão fetichizada. 

A própria metáfora que o diretor constrói com a figura do pintor de casas (ou seja: do homem apto a fazer qualquer coisa, qualquer tipo de trabalho, pelo seu próprio sustento e sobrevivência) é muito bem vinda e reflete o amadurecimento do diretor, que consegue reinventar o gênero que ele próprio celebrizou com um brilhantismo contumaz. Sheeran é um "garoto de recados" que soube entrar e sair dessa hierarquia com extrema elegância, respeitando a todos e por isso mesmo sendo respeitado também. 

Mas como nem tudo são glórias e comemorações na vida desses homens do crime o final da vida cobra o preço por seus pecados e, em alguns momentos, me fez lembrar do desfecho de vida de Michael Corleone em O poderoso chefão, de Francis Ford Coppola. O abandono, o arrependimento por escolhas mal feitas, o deslize por não ter sido um bom pai quando teve tempo para isso e finalmente a sensação de estar sendo seguido e espionado pelo resto da vida, à espera de alguém que se vingue dos seus atos. 

Terminadas as mais de três horas de projeção (que passaram de forma extraordinária, sem me deixar cansado em momento algum, tamanho meu envolvimento com a trama) chego à conclusão de estar diante do primeiro grande candidato ao Oscar de melhor filme do ano que vem. 

O irlandês é a redescoberta de Scorsese como diretor, apresentando uma nova faceta para um gênero que ele próprio praticamente criou. E para tal narra a história de um homem comum que por se afiliar a um mundo obscuro, onde todos desconfiam de todos, acabou tornando sua própria vida invisível e carente de significado. 

Dito isto, que comece agora a temporada de prêmios!

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

É sério que tem gente que não gosta de ler?


Num país como o nosso, carente de bons leitores (e não pessoas que fingem entender a bíblia ou perder tempo com bobagens na linha auto-ajuda ou esotérico) qualquer evento voltado para a leitura - e esse tipo de evento vem perdendo muito espaço no último ano! - é não somente válido como obrigatório. Precisamos urgentemente conscientizar o nosso povo da importância de ler. O problema é que, muitas vezes, o livro perde espaço na vida das pessoas mais jovens por não conseguir concorrer com as agressivas estratégias de marketing que regem o mundo dos games e da tecnologia. 

E nessas horas fica bem claro o gosto amargo da seguinte pergunta: e quem é que vai perder tempo com leitura num cenário desses? Minha resposta cínica nessas horas é: pessoas com vontade de enfrentar esse mundo opressor e babaca que adora ditar regras alienantes para a maioria da população. 

Mas chega de falar difícil porque o que eu quero mesmo com este artigo é dizer que meu último final de semana me deixou em êxtase porque compareci à Biblioteca Parque Estadual, no centro da cidade (ao lado do Campo de Santana) para prestigiar o LER - Salão carioca do livro 2019. Desabafo rápido: como é bom, nos últimos tempos, ver a biblioteca funcionando de novo depois de tanto tempo fechada (malditos gestores do município e do Estado da Guanabara e suas falsas políticas públicas!). 

Imagine um lugar onde você pode se deparar com o melhor da prosa, da poesia, do teatro, da crônica, dos quadrinhos e do que mais você puder imaginar, coexistindo juntas num mesmo território. Entre oficinas, espaços e palcos, é possível até se perder dentro do evento (algo que eu imaginei que só fosse possível dentro da Bienal do Livro, no Riocentro). Aliás, não posso deixar de elogiar a presença e o apoio de empresas como o Sebrae, o Sesc e a universidade Estácio de Sá. Qualquer instituição ou empresa que apoie o direito à leitura tem o meu apoio incondicional. 

Entre os autores homenageados nas palestras não poderia faltar Machado de Assis, nosso mais importante autor, Nelson Rodrigues, Cecília Meireles, Lima Barreto (escritor por quem eu tenho um certo fanatismo que já dura décadas!), João do Rio, Manuel Bandeira, Clarice Lispector (que comemora este ano o seu centenário), o bardo William Shakespeare, Monteiro Lobato (criador do eterno Sítio do pica-pau amarelo) e o poetinha Vinícius de Moraes (que, por sinal, rendeu um encontro delicioso entre o especialista em música Ricardo Cravo Albin e o sambista Martinho da Vila). 

Já dentre os autores convidados para palestrar, houve uma mescla entre nomes do momento (como Monja Coen, Mary del Priore, Viviane Mosé e o quadrinista Marcelo Quintanillha, vencedor do prêmio Eisner Awards), nomes consagrados (Paulo Lins, autor de Cidade de Deus; Elisa Lucinda, o historiador Eduardo Bueno - falando de Zumbi dos Palmares - e Antônio Torres, de Um táxi para Viena d'Áustria) e outros de menos renome, mas também interessantíssimos (casos de Paulo Scott e Bianca Ramoneda, que me deixou legitimamente encantado). 

Para quem curte a festa além dos livros e debates, teve um pouco de tudo: oficina de roteiro para histórias em quadrinhos, jogos virtuais, Oficina de literatura de cordel, peças infantis, contação de histórias, curtametragens sobre figuras literárias, intervenções poéticas, espaço HQ, consultorias sobre storytelling, sessões de autógrafos, teatro (com atores portadores de síndrome de down), jogo da amarelinha literária (as crianças adoraram!), jogos em libras, roda de leitura, leitura dramatizada, homenagem a Elza Soares (por sinal o autor e jornalista Zeca Camargo, que escreveu sua mais recente biografia, também deu as caras na festa). Só não curtiu quem não quis ou estava com preguiça mental. 

Meus olhos chegaram a marejar de lágrimas por testemunhar o interesse do público presente ao evento por uma área na qual sempre fomos deficitários (pelo menos, se fizermos uma ligeira comparação com leitores americanos e europeus, saímos perdendo de lavada!). E vejo nisso um sinal de evolução da nossa sociedade. 

Mas a cereja do bolo mesmo foram as temáticas presentes nas mesas e palestras: assuntos que andam na ponta da língua de muita gente e que vêm ganhando cada vez mais espaço nos debates cotidianos da cidade maravilhosa. Prova viva disso foi o número expressivo de pessoas assistindo LGBTQI: nicho de mercado ou narrativa social. Se os homofóbicos vissem, certamente ficariam irritados. 

Eu, logicamente, fui atrás de meus interesses e encontrei muita coisa boa que me deixou mais lúcido e aberto a novas possibilidades: foi assim com Como editar seu próprio livro, Interpretação e novas linguagens tecnológicas, Ubook (a moda dos livros para ouvir), Tipos: escolhendo a fonte do seu livro, Revistas literárias (um tema que me deixa fascinado porque sou frequentador de sebos e volta e meia encontro exemplares antigos em algumas lojas), A história dos start-ups, Poesia slam (gênero que cresceu muito no país nos últimos anos), Financiamento coletivo (que vêm ganhando espaço após a crise no setor audiovisual se acentuar), Podcast (pois estou pensando em criar um sobre cultura pop), Censura na literatura, Adaptação: como o livro vai às telas, Hiperliteratura, Narrativas colaborativas e até mesmo uma de nome Como ler escondido nas livrarias que me deixou arrepiado! 

Se eu pudesse ficava morando ali de vez. 

Houve também atrações diversas no próprio Campo de Santana, mas eu estava tão baratinado com tudo o que via dentro da biblioteca que não tive coragem de ir dar sequer uma espiadinha. Tinha muito a ser visto em tão pouco tempo! 

Quando enfim parto para casa, cheio de dores no corpo de tanto andar para lá e para cá, mas realizado com tudo o que aprendi e anotei em meu bloco de notas, saio desta experiência literária ainda mais convicto da importância da leitura em nossas vidas e ciente de que, enquanto não procurarmos por esse caminho, por mais difícil e tortuoso que por vezes ele pareça, não sairemos da condição social em que nos encontramos. 

E só por isso já valeu a pena - e muito! - ter saído de casa. Que venha a edição de 2020... 

domingo, 24 de novembro de 2019

Vidas secundárias


Por que essa eterna mania de considerarmos as mulheres seres inferiores, que precisam ser legisladas por homens fortes, viris, tementes a Deus, provedores do lar? Até quando teremos de suportar uma sociedade infame, cruel e hipócrita que defende a ideia do sexo feminino como sexo frágil? Serão elas criaturas tão perigosas assim, passíveis de serem observadas 24 horas por dia, como criminosas do mais alto escalão? Sim, infelizmente empobrecemos a este nível. Praticamente animalizamos a própria sociedade (vide o número crescente de feminicídios nos últimos anos). 

E mesmo com toda essa realidade atroz e adversa a elas, não haverá quem as defenda de forma digna, que lute - mesmo que através da arte - por um espaço igualitário ou pelo direito delas expressarem suas próprias opiniões, galgarem seu próprio espaço nessa selva competitiva que é o mundo? 

O cineasta Karim Ainouz (que apresentou suas mulheres fortes e decididas nos longas anteriores O céu de Suely e O abismo prateado) fez isso de novo e de forma sublime com A vida invisível, vencedor da mostra Un Certain Regard no festival de Cannes e nosso postulante à uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro do ano que vem. 

O filme - que é adaptado do romance A vida invisível de Eurídice Gusmão, da escritora Martha Batalha - narra a história das irmãs Guida (Júlia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte), filhas de uma tradicional família portuguesa, baseada em ideais conservadores e por vezes extremos. Guida é a sonhadora, acredita ter encontrado o amor na figura de um jovem grego que a leva para o seu país. Em outras palavras: a clássica love story que, muitas vezes, acaba se desdobrando em consequências desastrosas. Já Eurídice é mais sensata, mas no fundo deseja mesmo é uma carreira como pianista e se prepara para os exames visando uma vaga num conservatório na Áustria. 

Contudo, os planos de ambas se mostram frustrados quando Guida regressa da Grécia com um filho no ventre e é expulsa de casa pelo pai, que quer mantê-la afastada da irmã, agora casada e, na visão dele, feliz. Mal sabe ele que o matrimônio da filha se torna tudo o que ela não desejou para sua vida. Pior: ela vê no relacionamento um impedimento para seu maior sonho. 

Com o passar dos anos, a única forma de contato entre as irmãs são as cartas que Guida escreve e que, ela acredita, chegam as mãos da irmã. E é nesse momento que chego à melhor reflexão oferecida dentro do filme. Trata-se de uma história sobre vidas secundárias, silenciadas pela velha moral do conservadorismo hipócrita que acredita piamente serem seus despautérios e decisões arbitrárias a melhor escolha para salvar a chamada família tradicional. 

Não é dado à Guida ou a Eurídice o menor direito à fala, à expressão seja em que formato ela se apresente. Elas são, como quase todas as mulheres daqueles anos 50 (e que muitas mulheres da atual geração - pasmem! - desejam que essa cultura vigore novamente), produtos da repressão e da cultura do conformismo. A velha história do "lugar de mulher é na cozinha", "você não manda em nada aqui" ou mesmo "saiba o seu lugar, antes que eu perca a paciência".  

O casamento de Eurídice em alguns momentos me lembrou a personagem de Julia Roberts no filme Dormindo com o inimigo, sempre acuada e precisando estar disponível para atender aos prazeres do marido. No entanto, quando tinha sonhos próprios era sempre indagada de maneira a castrá-la, pô-la no seu devido lugar de coadjuvante. "Você já não toca piano?", "você nunca fica satisfeita com nada". 

Enquanto isso, Guida enfrenta a barra de trabalhar para sustentar o filho sozinha, sendo várias vezes acusada de injusta pelo sistema por reclamar das condições trabalhistas pelas quais as mulheres passam todos os dias. E encontra em outros desgarrados sociais uma segunda família, que a acolhe sem rotulá-la do que quer que seja. 

Há muito tempo não vertia lágrimas ao assistir um filme e esse mereceu todas elas. Se atingirá ou não o zênite da glória na festa hollywoodiana eu não sei, mas que é uma das produções mais bem realizadas que eu vi nos últimos anos e um forte candidato a estatueta, ah isso é! 

Karim Ainouz volta no tempo sete décadas para falar do hoje opressor e do que promete ser o amanhã se as mulheres desistirem da luta agora. Seu manifesto em prol delas é visível - ao contrário do título do longa - e devastadoramente gratificante para quem (ainda acredita) que é possível uma sociedade mais justa num futuro próximo. 

Talvez alguns leitores me achem ingênuo ao escrever o parágrafo anterior. Honestamente... Ingenuidade para mim é acreditar que este modelo patriarcal é moderno e necessário para manter a ordem. É um direito das mulheres acreditar em sua emancipação, seja a que preço for, seja qual for o custo dessa batalha. Pois, do contrário, estaremos fadados a eterna omissão. 

A sessão termina, as luzes se apagam e vejo mulheres chorando, emocionadas (não só com o desfecho do longa, mas com a verdade assustadora da interpretação de Fernanda Montenegro, nossa maior atriz, não à toa sendo justamente homenageada por seus 90 anos. Em uma palavra: magnífica!). Uma senhora bem idosa se levanta e aplaude, enquanto o fado português embala os créditos. Ela é a cereja do bolo nessa sessão de cinema gloriosa. A vitória do passado contra o conformismo.

Que filme! Que vitória da arte! E tem gente querendo acabar com isso, com essa verdade, esse direito à luta, ao debate, a pensar diferente dos demais. 

Que eles, os canalhas que idolatram o passado sem reflexão, não vençam jamais!

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Depois do muro


O muro de Berlim caiu 30 anos atrás e, no entanto, o mundo não evoluiu... Ainda não.

Parece uma frase triste para começar um artigo e é, mas o mundo anda desse jeito mesmo: triste e cada vez mais difícil de engolir. Assisto a um programa de notícias na madrugada e ouço alemães da extrema direita falando em muros e restrições novamente no país. Angela Merkel que se cuide! Mais do que isso: gente dizendo que "antigamente era melhor". 

Aliás, essa frase "antigamente era melhor" aportou também por nossas terras. Gente sentindo saudade do que nunca viveu e orgulhoso da própria ignorância. 

Infelizmente somos um país que idolatra a própria falta de informação. Que vive de memes da internet e fake news nas redes sociais para se manter "por dentro" (eu sei, eu sei... você está pensando nas aspas; o Brasil tem andado nas aspas de uns anos para cá).

Gostaria muito de acreditar que o mundo contemporâneo será salvo por heróis e salvadores da pátria. Gostaria de dizer que eles estão quase chegando, que é questão de paciência. Mas não dá. Nunca acreditei em nenhum dos dois. Isso é coisa da Marvel, da DC e da eterna mania de transformarmos a política partidária naquilo que ela não é (e, honestamente, acho que nunca será). 

A noção de bolha, redoma, muito usada em décadas passadas, ganhou contornos tétricos neste século XXI. A humanidade anda cada vez mais distante da própria humanidade. Pior: bota a culpa de tudo nela própria. O problema é que essas pessoas, os acusadores, se esquecem de que também fazem parte do problema. Não adianta fugir, se fazer de vítima, ficar em cima do muro. "Ficar em cima do muro", já dizia um dos meus professores do segundo grau, também é se posicionar. Não se posicionar é uma forma de posição. Fútil, alienada, covarde, mas é. 

Tenho andado receoso pelas ruas, pensando no amanhã, se haverá amanhã, se a Amazônia sobreviverá à barbárie cometida contra ela, se a sociedade um dia tomará vergonha na cara e admitirá seus erros e más escolhas, se um dia a tão falada diversidade terá direito ao seu espaço, se deixaremos de odiar por tão pouca coisa... E não me vêm respostas à mente e isso é por demais assustador. 

Para onde quer que se olhe, Síria, México, França Venezuela, Hong Kong, Chile, Oriente Médio, a própria Alemanha, vejo problemas que já deveriam ter sido pelo menos contornados. Contudo, o ódio e a intolerância não o permitem. Eles aprisionam, impõem regras, mutilam quem pensa diferente. 

Se o mundo hoje fosse uma série de televisão, seria The Walking Dead. Estamos devorando e regurgitando uns aos outros e não nos damos conta disso. Tudo virou mentira (correção: chamam de pós-verdade agora; vai entender essa gente que cria conceitos!). 

Chego ao décimo parágrafo desse texto mais perdido do que quando comecei, mas ciente de que não sou o único habitante do planeta terra que está se sentindo assim. Sinto essa aura de niilismo no ar, pairando sobre muita gente ao redor do mundo. Quando digo que ando descrente de muita coisa hoje em dia e ouço os eternos covardes de sempre me acusando de traidor, de canalha, de radical, tenho a consciência legítima de que minha descrença é uma grande forma de lucidez. Já a raiva e prepotência de meus adversários e algozes... Serve pra quê mesmo?

Espero que no meu próximo artigo da série "reflexões" os ânimos estejam melhores, porque do jeito que a coisa vai... não sei não!

E como não quero terminar essa jornada literária falando impropérios ou desistindo de tudo (até mesmo da esperança), peço aos leitores desse texto que sobrevivamos a mais dias. Como sobrevivemos a este. 

Afinal, nesse momento é o que nos restou de verdadeiro.

sábado, 16 de novembro de 2019

Na prática não é bem assim...


Está difícil conversar (que dirá debater!) sobre praticamente tudo no país, mas quando o assunto em questão é a fé as pessoas normalmente descambam para a religião, pois a grande maioria da sociedade só consegue entender a conotação de fé pelo viés de pessoas frequentando igrejas, templos, mesquitas, etc. Ou seja: para muitos você só tem fé quando pertence a um grupo que pensa exatamente como você e frequenta um determinado lugar. 

E quando essa realidade - que já é incômoda por si só - ganha ares de fanatismo e cegueira ideológica proposital, aí então meus caros leitores, é um Deus nos acuda. 

Quando assisti o primeiro trailer de Divino amor, do diretor Gabriel Mascaro (do excelente Boi neón) pensei comigo logo de cara: "vem problema por aí". E disse isso muito pelo fato de estarmos vivendo um momento de muita polarização no Brasil. Pois bem: o filme estreou, a crítica em grande parte elogiou e eu fui correndo aos cinemas para conferir. No entanto, quis dar um tempo para emitir a minha opinião sobre o longa, pois minha relação com dogmas e discursos religiosos é sempre tensa e fadada a discussões (muitas delas desnecessárias). E eis que, após muita autoreflexão, chega o momento de manifestar meu pensamento sobre o que vi. 

Divino amor é crítico, sem no entanto ser desrespeitoso (e vi algumas pessoas escrevendo na internet sobre o filme que ele até poderia, se quisesse). Traz na figura de Joana (Dira Paes, ótima) o fio condutor de uma história que dialoga muito com o país no qual estamos vivendo depois das últimas eleições. 

No longa de Mascaro o Brasil deixou de ser o país do carnaval, da folia, do maracanã lotado, dos feriados prolongados, para se tornar um grande ritual gospel. A festa que agita os "cidadãos de bem" brasileiros não envolve batucadas e samba e sim um ritmo, digamos, mais leve, clean, politicamente correto. Mais do que apenas isso: tudo, absolutamente tudo, é visto sob a ótica da religião. Desde a forma como os filhos serão educados até a disputa por uma vaga de emprego. 

Pior: todo aquele que não segue as premissas religiosas vigentes é visto como um desgarrado, uma espécie de pária dentro da própria sociedade. Bom mesmo é aquele que segue (cegamente, em muitos casos) os preceitos de Deus. 

Contudo, isso na verdade não passa de uma grande teoria sobre o viver em sociedade. Na prática, no chamado mundo real - conceito que vem perdendo fôlego por aqui nos últimos anos - a história não é bem assim. A parábola de que esses homens e mulheres idôneos seguidores do discurso bíblico não traem, não cometem erros, não produzem falhas e distorções de caráter, é de uma ingenuidade contumaz e típica daqueles cujo único mérito em vida é o de cercear a liberdade e a opinião alheia. Ou para resumir de forma direta: não se sustenta. 

Por isso, quando Joana percebe que seu casamento está ruindo e não consegue obter as respostas que almeja de seu líder religioso (ou guru, expressão mais afeita aos dias de hoje) ela sucumbe de forma tão desastrosa, que chega ao ponto de realmente se acreditar uma inútil para a sociedade como um todo. E é nesse exato momento que o filme se torna mais interessante e poderoso. 

Gabriel Mascaro mostra, de forma lúcida, sem se apegar a esterótipos e modismos, a grande hipocrisia - ou lobotomia, como preferir chamar - que rege a existência de pessoas confusas, que não conseguem realizar a própria jornada com seus próprios passos, sem recorrer a "instruções" ou "versículos" como se fossem reles manuais de regras. 

Ao final, mesmo com a ironia proposta pelo diretor envolvendo o nascimento de um novo messias, o que fica claro mesmo (pelo menos, ficou para mim) é que estamos vivendo num país que se transformou num delicado projeto de poder ilógico e sórdido, na medida que não permite a outras pessoas o mesmo direito de se posicionar. Viramos uma hierarquia da fé, mas uma fé tendenciosa e calcada num verborragia falha e sem sentido, usada para castrar ou silenciar todo aquele que se manifeste contra ela. 

Fiquei semanas após ver o longa ruminando suas ideias, a maneira elegante com que foram defendidas, e pensando no que esperar do futuro. Colegas meus, mais derrotistas, diriam: "se ainda houver futuro depois do surgimento dessa gente". E a conclusão a que chego é: não podemos ficar calados, aguardando. Pois tenho receio do que pode vir a seguir. 

Moral da história: é um filme que realça medos e censuras, que como todos os medos e censuras na história desse país, precisam ser combatidos. De frente. Agora mais do que nunca. 

E pensar que, em tese, trata-se apenas de um filme de cinema. E que arte genial - e por isso tão perseguida atualmente pelo governo federal - é o cinema!

terça-feira, 12 de novembro de 2019

...E o mundo nunca mais foi o mesmo!


Ligo a tv num programa da Band News e vejo a notícia de que a internet completou cinco décadas. Quem diria! Contudo, há também nessa notícia ótima - a internet quebrou barreiras até então intransponíveis e inimagináveis - uma infeliz conclusão: é impressionante a quantidade de pessoas no mundo que involuíram, andaram para trás, por conta do mau uso dessa tecnologia. Temos tudo nas mãos para transformarmos essa ferramenta em objeto de extrema utilidade e, no entanto, existem aqueles que preferem desperdiçar sua energia em sites de pornografia, assistindo vídeos idiotas no youtube ou compartilhando memes desnecessários nas redes sociais. 

E pensar que essa invenção dos deuses nasceu como um código militar, uma arma de guerra em plena Guerra Fria no final dos anos 60, quando os EUA visavam monitorar os passos seguidos pela antiga União Soviética, sua eterna rival até então. E para realizar tal façanha precisavam daqueles mega computadores, capazes de ocupar todo o andar de um prédio. Fica aqui uma dica para leigos: assistam o filme O jogo da imitação, de Morten Tyldum, para entender um pouco o clima dessa época e o surgimento dessa tecnologia. 

O próprio conceito de e-mail, hoje tão banalizado entre nós, começou a surgir em 1971 e lutou muito para vingar (tanto que contam os pesquisadores sobre o tema que o primeiro e-mail enviado - no caso, a palavra Login - travou o sistema ainda na segunda letra). Sim, meus amigos, não foi fácil a vida desses pioneiros que hoje facilitam a nossa vida de n maneiras. 

A internet só começa a se tornar palpável a todos em 1989, graças a Tim Berners Lee, criador da World Wide Web, que deu início a internet comercial e ao surgimento dos primeiros provedores (que conhecemos hoje em dia como UOL, IG, Terra, etc). Mas há uma ressalva a ser feita: era um sistema longe da maravilha que encontramos atualmente com o 3G. Como esquecer daquelas tardes nos anos 90 em que tentava fazer a conexão e ouvia aquele chiado de estática insuportável? Um barulho que ficou eternamente na minha memória. E não somente isso. A conexão era terrível, lenta, levávamos horas para acessar um documento. Assistir a um vídeo, então? Um Deus nos acuda. 

E essa agonia, infelizmente, perdurou até a criação da Web 2.0 em 1999. Se você está com você de gritar ufa!, agora pode... Sério. Eu não sinto saudades dessa época de internet travando e acesso restrito a quase tudo. 

Mas o melhor mesmo, a cereja do bolo, viria em 2007 com a internet móvel. Hoje podemos encontrar internet com uma facilidade gigantesca. Até mesmo em lugares que eu, a priori, considerava impossível tal existência. Até o wi-fi oferecido pela prefeitura - que eu já experimentei - é um grande achado. Acreditem! 

Moral da história: o mundo nunca mais foi o mesmo depois do surgimento dessa tecnologia. E digo isso para mais e para menos também. 

Em muitos aspectos, tornamo-nos mais ágeis, facilitamos serviços básicos, burocráticos. Tudo agora está à um clique do mouse de ser resolvido. Porém, uma grande parte dessa mesma sociedade tornou-se mais cruel, oportunista, usa a ferramenta para maus fins. Prova viva disso é a chamada Dark Web, que reúne uma legião de pessoas mal intencionadas, dispostas a transformar o mundo num lugar pior a cada dia. 

É triste ter que colocar essa notícia neste artigo, mas nem todos nós nos tornamos pessoas melhores pós-internet. Existem aqueles que transformam a web numa grande fogueira de vaidades, e só estão interessados na sua própria fama ou mesquinhez, e são capazes de tudo - mesmo eliminar os demais - para atingirem seus objetivos. 

Você deve estar pensando: e olha que já chegamos ao século XXI! Honestamente... A dependermos da sanidade mental da sociedade, chegaremos ao século XXX ainda com esse deficit. O que é uma pena!

Mas não quero terminar este texto enfocando em tristezas e sim agradecendo - e muito! - àqueles que fizeram de tudo, chegando até a dar suas vidas em vários momentos, para que nós, reles mortais da contemporaneidade, possamos resolver problemas com menos esforço e mais tranquilidade. 

P.S: e que a humanidade (aquela parte contraditória, vocês sabem...) reaprendam a usar essa ferramenta de maneira mais lúcida e coerente, sem tanta baixaria, trocas de ofensas ou boicotando opiniões alheias as mais diversas.  

P.S 2: e olha que eu nem quis entrar na questão das fake news! 

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A enciclopédia das taras norte-americanas


Novembro chegou, as pessoas começam a planejar o seu final de ano e a rede de cinemas UCI prepara as comemorações de seu aniversário exibindo, dentre outros filmes, o visionário Pulp Fiction: tempo de violência, de Quentin Tarantino. E só então me dou conta de que sua maior obra-prima completa neste ano 25 anos de existência. E pensar que eu quase deixei a data passar em branco por aqui!

Tarantino, outrora funcionário de uma videolocadora em Manhattan, decidiu passar de cinéfilo à cineasta e narrar histórias que fujam do convencional, daquilo que a priori consagrou hollywood. E certamente o melhor exemplo desse feito dentro de sua gloriosa carreira foi Pulp Fiction. 

O projeto, que foi vencedor da Palma de Ouro em Cannes, recorre ao conceito de pulp (no caso, revistas ou livros sensacionalistas, geralmente publicados em material de segunda classe, e sempre repleto de histórias violentas e com uma forte carga sexual) para construir uma narrativa mista de episódios que flertam diretamente com a tara por violência. 

Aliás, Pulp Fiction é, por si só, uma grande enciclopédia das taras norte-americanas que acompanham a vida daquele povo contraditório e controverso que adora se vender como "a maior nação de todos os tempos". E o roteiro de Tarantino e Roger Avary (ambos vencedores do Oscar de melhor roteiro original) deixa isso claro logo no diálogo de abertura e mantém a franqueza até o último frame. Logo, nunca espere por finais felizes, que dirá uma estrutura convencional, na linha início, meio e fim. A história aqui em questão quer incomodar muito mais do que simplesmente ganhar aplausos dos espectadores.

Repleto de personagens marcantes, como os "cobradores" Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) e Vincent Vega (John Travolta, num papel que o trouxe de volta à grande cena do cinema americano), a rebelde Mia Wallace (Uma Thurman), esposa do chefão, o pugilista fracassado Butch Coolidge (Bruce Willis) e o especialista em limpar cenas de crime Winston Lobo (Harvey Keitel), a trama constrói um universo subversivo, cheio de amoralidade e com críticas as mais diversas a temas como o multiculturalismo, diferenças étnicas, a cultura do estupro - tema que sempre rendeu polêmicas na América, principalmente nas universidades - e até mesmo ao discurso religioso. 

E tudo isso esplendidamente bem acompanhado por uma trilha sonora magnífica (e foi aqui que começou a paixão do diretor pelas playlists, que se tornaram tão famosas quanto seus longas) que inclui Dick Dale and his Del-tones, Kool and the Gang, Al Green, Chuck Berry, Jefferson Airplane, Creedence Clearwater Revival e muito mais. 

Hoje, passadas duas décadas e meia, o filme tornou-se cult e referência de qualidade cinematográfica dos anos 90 por conta de suas inúmeras sequências icônicas, como por exemplo a do concurso de dança, a overdose de Mia e a seringa enfiada em seu coração, Jules lendo Ezequiel 25: 17 antes de eliminar seus adversários, etc etc etc. 

Muitos críticos costumam dizer que Tarantino nunca mais atingiu o mesmo patamar ao longo de toda a sua carreira. Prefiro acreditar que ele era apenas mais novo e tinha mais tempo para ousar (diferentemente do artista já consagrado que é hoje e que precisa negociar com produtoras e patrocinadores para continuar perpetuando suas ideias). Embora, em se tratando de Tarantino, isso seja meio vago, pois ele sempre lutou por sua liberdade criativa e nunca me pareceu que ele tenha seguido rótulos impostos por um determinado mercado exibidor. Enfim... Estou aqui apenas devaneando, pagando de advogado do diabo. 

Ao fim das mais de duas horas e meia de projeção que passaram numa velocidade espantosa, não me deixando cansado em momento algum, uma única certeza: Tarantino é hoje, sem dúvida, um dos maiores - senão o maior - reinventor da sétima arte. Desconstrói estereótipos, reapresenta clássicos num novo formato para as novas gerações, propõe misturas (ou mashups) culturais os mais diversos e prova por a + b que é possível permanecer lúcido sem recorrer à exageros (como tenho visto em grande parte dos chamados blockbusters de hoje em dia). 

E mais: consigo imaginar uma próxima geração falando de seu filme mais famoso quando completar 50, 75, 100 anos. É um filme atemporal em todos os sentidos, principalmente na sua proposta estética. 

Ah! faltou dizer uma coisa: como foi bom poder reassistir isto tantos anos depois... A minha adolescência valeu mesmo a pena!

domingo, 3 de novembro de 2019

Revisitando os tempos de escola

Resultado de imagem para EGITO ANTIGO – DO COTIDIANO À ETERNIDADE CCBB

Embora eu tenha me formado em comunicação social dez anos atrás, sempre me interessei por história. Seja ela a do Brasil ou mundial. Na verdade, nunca consegui entender direito uma sociedade como a nossa, que não faz a menor questão de conhecer a sua própria história passada, muito menos o que acontecer ao redor do mundo. E quando a história em questão era a dos povos fundadores da civilização moderna, como Grécia, Roma e Egito, o meu interesse aumentava ainda mais. 

Tanto que um dos programas de final de semana que mais fiz na minha época de adolescente e estudante do ensino médio era a visita ao Jardim Zoológico na Quinta da Boa Vista seguida sempre de uma passagem pelo museu nacional (sim, esse mesmo que pegou fogo recentemente e ainda não recebeu o devido reconhecimento de nossos dirigentes, ficando ao Deus dará); E às vezes, mesmo que eu não estivesse afim de ver os bichos do zoo, ainda assim dava um pulo no museu. E mais: conhecia algumas peças do acervo de cor e salteado. 

A primeira vez que vi uma múmia (e antes disso a lembrança que eu tinha do personagem era vê-lo em episódios do Chapolin e em desenhos do Johnny Quest) foi uma revelação. Fiquei intrigado com todo o processo de mumificação, que me levou a procurar nas bibliotecas livros sobre o assunto. Deu no que deu. Virei um leitor fanático. 

Pois bem: eis que o Centro Cultural Banco do Brasil (mais uma vez ele melhorando ainda mais a minha formação cultural!) reaviva a minha memória e traz para o país a exposição Egito Antigo - do cotidiano à eternidade. Tratam-se de 140 peças oriundas do Museu Egípcio de Turim, considerado o segundo maior acervo egípcio em todo o mundo.  

Logo que entro no Centro Cultural - que está lotado (afinal de contas, trata-se de um sábado e a garotada comparece em massa!) - me deparo extasiado com a réplica de uma pirâmide de seis metros de altura, lindíssima e muito bem feita. E meus olhos imediatamente brilham. Pergunto a um dos seguranças em que andares estão expostas as peças e ele me informa que a exposição ocupa oito salas. E o que vêm a seguir é mágico!

O acervo conta com esculturas, pinturas, objetos, sarcófagos e, claro, uma múmia. De uma mulher que viveu há quase três mil anos, da dinastia Núbia (linhagem conhecida hoje em dia como o Sudão, na África). Mas ela não é a única peça mumificada da coleção. Há também gatos, peixes e crocodilos mumificados. Quando vislumbrei num canto a mini esfinge lembrei-me das aulas de história no colégio e mais uma vez me emocionei, viajei no tempo. 

Na verdade, a exposição acabou funcionando como uma espécie de aprimoramento de tudo aquilo que eu já conhecia sobre o tema. E com direito à instalações tecnológicas e interativas as mais diversas para agradar os nerds de plantão (sim, meus amigos, tinha gente tirando selfie com o faraó, e era muita gente). 

O objetivo primeiro do CCBB - que completa 30 anos de existência - foi trazer um amplo panorama sobre o cotidiano, a religiosidade e os costumes ligados à crença na eternidade. Sim, os egípcios acreditavam na vida após a morte e realizavam rituais curiosos ainda em vida (mas essa parte eu não vou contar detalhe nenhum aqui, pois quero que vocês também compareçam a exposição, que é magnífica e altamente didática).

Outro destaque da mostra é a sala que abriga o registro da viagem feita por Napoleão Bonaparte ao Egito. Só pelas gravuras históricas presentes já merece por si só uma olhada metódica. 

E o mais impressionante: a qualidade de preservação dos objetos, que datam em média de 4 mil anos antes de Cristo. Não é à toa que o Museu de Turim tem tanto prestígio. Fiquei de queixo caído durante todo o passeio. 

Ao fim dessa jornada histórica e memoriográfica, saio do centro cultural não somente nostálgico com tudo o que vi, mas também orgulhoso de minha própria formação. Passados tantos anos da escola, hoje formado, vejo com alegria que meu conhecimento não caducou e certas sociedades e ensinamentos são eternos, não envelhecem jamais. E continuam indispensáveis na nossa bagagem cultural. 

E pensar que tem gente que prefere perder tempo com videogame e instagram a manter contato com um repertório desses... Vai entender esse povo que adora posar de politizado, mas não conhece o bê-a-bá sobre absolutamente nada!