Certas pessoas precisam ser a estrada. Outras, o retardatário. Parece louco, eu sei... Mas não deixa de ser verdade.
Kurt Cobain era rebelde, tinha tudo para ser o antissocial, o que não se encaixava em lugar nenhum, e disso todos os fãs do Nirvana - banda que ele fundou e consagrou no mercado fonográfico - já sabem desde o início de sua existência. Contudo, o garoto estranho de Seattle tinha um sonho e poucos realmente o entenderam. E não à toa mais e mais pessoas querem saber quem foi esse garoto, antes da fama, de Bleach, de Nevermind, de In Utero...
É exatamente essa a intenção da magnífica graphic novel Kurt Cobain: Quando eu era um Alien, da dupla Danilo Deninotti e Bruno Toni. (E desde já adianto: a correlação com o alien é mais provocação - ou sarcasmo - do que propriamente o mote da hq)
Kurt era o estereótipo vivo da derrota e do niilismo. Fruto de um lar instável, vivia os dias perambulando, ou pelas ruas, ou fingindo que estudava na escola. E quando seus pais se divorciaram, aí então a coisa degringolou de vez. Sobrou-lhe apenas a falta de perspectivas, os amigos (desajustados como ele) e o amor pela música, única e real razão pela qual continuar vivendo.
Porém, até a consagração definitiva com a canção "Smells like teen spirit" foram muitos percalços, muitas portas na cara (até os pais desistiram dele), romances efêmeros e, muitas vezes, uma sensação de impotência e melancolia.
E nesse sentido, vale a pena elogiar a paleta de cores com tons azuis, remetendo bem a essa ideia de aprisionamento, a sensação de que a vida do protagonista está presa, amordaçada em algum lugar, e ele não sabe bem - a princípio - como se libertar dessa condição. Mas ao mesmo tempo ele precisa passar por todo esse dilema, é a sua jornada, o seu carma.
Pois somente desse jeito ele atingirá o "estado de libertação espiritual" proposto pelo nirvana, que conclui sua trajetória rumo ao sucesso e à fama.
Não conhecia a dupla de quadrinistas, mas já estou fuçando na internet atrás de outros projetos deles. Gostei muito do clima, do formato proposto e, principalmente, da decisão deles de não heroicizar Cobain (algo que vejo muito em certos segmentos da chamada mídia pop, que chegam até a tratá-lo como uma espécie de super-herói, imbatível, insubstituível). Essa é, com certeza, a melhor característica do trabalho: traçar a humanidade de Kurt antes dele se tornar o astro de rock que se tornou.
Para saber e esmiuçar mais sobre a gênese confusa do artista que, dizem, criou a "última verdadeira banda de rock da história"? Aí, meus amigos, só lendo e tirando suas próprias conclusões. Eu dei a sorte de encontrar essa relíquia em capa dura por módicos 20 reais num saldão. E espero sinceramente que você tenha a mesma sorte.
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