terça-feira, 23 de janeiro de 2024

R.I.P Norman Jewison


É sempre muito triste para os cinéfilos quando um grande nome da sétima arte nos deixa - e, nos últimos anos, hollywood tem perdido muitos deles numa velocidade por demais espantosa (e pior: sem a devida renovação à altura). Entretanto, o diretor que se foi dessa vez é um caso longo de admiração da minha parte, pois sempre creditei ele numa lista dos melhores da história que eu assisti no cinema (e em casa).

Em outras palavras: é com pesar que fico sabendo da morte do diretor Norman Jewison no último sábado (20), aos 97 anos. 

Sempre vi Jewison como uma grande criador de narrativas. Mais até: fez parte de uma geração que esmiuçou a sociedade americana com requintes de genialidade, expondo todas as suas paranoias, miscigenação, crenças e ambições. Contudo, até hoje não sei se ele foi reconhecido como merecia pela indústria. 

Ele era um diretor de quem se podia esperar tudo: com ele, pela primeira vez vi na tela um homem negro estapeando um homem branco, e também uma cantora (cantora? uma diva pop) ganhar um Oscar de atuação merecidamente. Em seus longas a jogatina e a corrupção jurídica eram protagonistas e até mesmo a saga vivida por Jesus nos evangelhos virou um musical simplesmente fabuloso. 

Como esquecer de Rollerball: os gladiadores do futuro, e do nocivo jogo que alienava as massas enquanto o Estado aprontava das suas, na surdina? E dos sindicatos se matando pelo poder em F.I.S.T, que nos traz um Sylvester Stallone diferente de tudo que o consagrou ao longo da carreira com Rambo e Rocky? E da onipresença magistral de Steve McQueen em A mesa do diabo e Crown: o magnífico? E do pugilista Rubin Carter - que virou até canção histórica de Bob Dylan - vivido por Denzel Washington em Hurricane - o furacão? Os exemplos são inúmeros e Jewison era um mestre em todos os gêneros e estilos. 

Obs: e se você viu os longas acima, mas esnobou Jesus Cristo Superstar (baseado em musical de Andrew Lloyd Weber), o extraordinário Um violinista no telhado, a poderosa Cher - figura icônica nos anos 1970 e 1980 - em Feitiço da lua e sequer deu trela para Al Pacino no memorável Justiça para todos, na boa... Tem algo MUITO errado com você!

Em 1968 seu longa No calor da noite venceu o Oscar de melhor filme, mas Norman não faturou o seu de diretor (uma puta injustiça... E o Academy Awards não mudou muito nesse sentido de lá para cá). Ele só viria a ser reconhecido de fato pela academia em 1999 com um Oscar honorário pelo conjunto da obra. E acreditem: não é mesma coisa, quando você conheceu o talento dele!

Jewison é daqueles diretores que praticamente dirigiu todo mundo que teve alguma relevância para o cinema em algum momento: de Danny Devito à Gerard Depardieu, de Robert Downey Jr à Nicolas Cage, de Michael Caine à Jane Fonda... Nunca se deixou seduzir por franquias e blockbusters que visavam primeiramente ao lucro e foi fiel - até o fim - à sua própria identidade. Com certeza vai fazer falta (e muita!) na atual hollywood, cada dia mais carente de artistas que pensem com a própria cabeça. 

Todo meu respeito, meu caro! E fique em paz junto com os deuses do cinema. 


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