terça-feira, 27 de junho de 2023

O visionário


A literatura é capaz de transformar seres comuns, cotidianos, em lendas. E, às vezes, certas lendas extrapolam sua própria dimensão e flertam com uma espécie de imortalidade que só é possível em esferas como o mercado editorial. Fiquei pensando nisso ontem após ler uma matéria na Folha de São sobre o escritor, jornalista e ensaísta político inglês George Orwell.  

Acho difícil que um outro escritor ao redor do mundo tenha sido tão mencionado quanto Orwell na última década. E a maneira como a própria geopolítica do mundo vem se construindo nos últimos anos contribuiu - e muito! - para isso. Orwell é amado e odiado por gerações distintas com a mesma intensidade. E ainda assim tenho a nítida impressão de que ainda não conseguimos tocar sequer a superfície do seu conhecimento. 

Polêmicas (e devoções) à parte, o fato é que Orwell, se vivo, estaria completando 120 anos. E certamente continuaria visionário e indispensável em seus escritos, provocando a tudo e todos. 

O autor que parou o mercado editorial em 1949 com o seu mais do que cult 1984 viu o mundo com suas cicatrizes amorais e sua eterna predileção pela hipocrisia muito antes de chegarmos ao caos em que nos encontramos atualmente. E enxergou - e escreveu - sobre tudo isso com uma facilidade assustadora. Não à toa incomodou os eternos demagogos e devotos da vida pelo status e o dinheiro e nada mais. 

Foi uma voz pungente contra o totalitarismo e o capitalismo como modelo de governo excessivo e deturpador. Rodou o mundo e reproduziu em ensaios espetaculares (e tremendamente angustiantes, difíceis de ler, tamanha a crueza e verdade de suas palavras) o que viu de horror, de manipulativo, de castrador. E também o quanto o povo foi massacrado por decisões políticas e empresariais execráveis. 

Deveria, na minha modesta opinião, ser leitura obrigatória em todas as escolas do mundo, nem que seja para o desenvolvimento de um senso crítico mordaz. No entanto, é taxado a todo momento dos mais terríveis apelidos, preconceitos, estereótipos, e de certa forma virou meio que "o inimigo público número 1" da sociedade contemporânea. 

Fica aqui meu sincero apelo: procure suas obras. Entre meus preferidos, recomendo (além, claro, da já citada ficção-científica no terceiro parágrafo) volumes como A revolução dos bichos, A flor da Inglaterra, Dias na Birmânia e Por que eu escrevo e outros textos, onde divide com seus leitores seu processo criativo e literário.

Paro por aqui, pois não quero entregar de bandeja aos leitores o mistério por trás de sua obra forte e contundente (na verdade, nem tenho competência para isso). Descubram-no, caros leitores deste blog! 

Aposto como agradecerão a si mesmos depois que viverem essa experiência.      


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