sexta-feira, 9 de junho de 2023

O príncipe envelheceu, mas não perdeu seu encanto.


Eu via minha irmã sentada em frente à tv assistindo aquele menino que vivia sozinho em seu asteroide e de vez em quando pegava um cometa com seu puçá para poder visitar o planeta terra e não entendia o fascínio dela pela animação que era exibida no SBT. Com o tempo passei a acompanhá-la nos episódios seguintes e só então entendi estar diante de um clássico da literatura infantil. 

Estou me referindo à O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, que completa 80 anos de existência em 2023 como fenômeno pop e que mesmo se tornando um ancião não perdeu sua delicadeza nem deixou de tocar o coração de milhões de crianças ao redor do mundo. 

 A ideia, que partiu de Eugène Reynal, um dos sócios da editora de Antoine nos EUA, pegou-o de surpresa. Seria ele capaz de produzir uma obra de cunho infantil? Até então ele só publicara obras adultas e sempre sobre sua maior paixão: a aviação. Para quem tiver interesse nesse outro lado da sua carreira, procure O aviador (1926), Correio sul (1929) e Voo noturno (1931).

Ainda assim, fã que era de desenho - rabiscar figuras o acompanhava em todos os lugares, como um hobby - fez o esboço do personagem num guardanapo de um restaurante que frequentava. Nascia ali o menino solitário que adorava aventuras e peripécias e tinha como amigo uma raposa falante. Os editores, a princípio, torceram o nariz para a criação pelo fato do protagonista morrer no final da história. Para Antoine, ao contrário, não havia o menor problema. 

E eu também não vejo. Nas animações da Disney, por exemplo, a mãe do Bambi e o pai do Simba (em O rei leão) morreram e ainda assim as crianças adoraram o resultado. A questão para o escritor era saber como abordar a morte dentro daquele contexto. E ele parece ter feito direito, vide o sucesso do livro até hoje. 

Detalhe importante (que talvez a turma do cancelamento à tudo hoje em dia não goste de saber): entre as inspirações para o livro muitos acidentes aéreos que o próprio Antoine sofreu na vida real. Ou seja, ela flertava tanto com a magia quanto com a melancolia e o sentimento de perda. Talvez esteja exatamente aí o segredo do seu sucesso: a convivência entre extremos. 

Infelizmente ele não testemunhou o sucesso do seu personagem, pois já era falecido quando a obra foi publicada em 1943. E sua morte - também em um voo, durante a ocupação nazista na França - é rodeada de mistério até hoje. Já aqui no Brasil, O pequeno príncipe só foi lançado em 1952 e teve, entre seus tradutores, autores de renome como Mário Quintana, Ferreira Gullar e Frei Beto. O livro foi traduzido para mais de 250 idiomas e há quem defenda no meio acadêmico ser o segundo mais lido da história da humanidade, depois da bíblia. Entrou em domínio público em 2015. 

Para quem procura por boas adaptações há uma versão live action interessante de 1974 dirigida por Stanley Donen (e que tem Gene Wilder e Bob Fosse no elenco) e também a animação As aventuras do pequeno príncipe (1978), do trio Hal Smith, Robert Ridgely e Walker Edmiston (no caso o desenho mencionado no primeiro parágrafo que minha irmã assistia, décadas depois, na tv). 

E finalmente, para que não me estenda em demasia nessa singela homenagem, o príncipe que no começo desagradou os editores, hoje tornou-se figura tão popular quanto Batman, Superman, Turma da Mônica, Pinóquio, Peter Pan e tantos outros personagens da cultura pop. Mérito de quem mesmo?


Sem comentários:

Enviar um comentário