Eu sou velho (sim, eu assumo logo, pois é melhor do que fingir uma realidade que não me convém). E no meu tempo de "mais novo" exposição era sinônimo de um acervo relacionado à grandes feitos, importantes figuras históricas, movimentos e vanguardas artísticas, enfim... expunha-se o grandioso, o notável, o extraordinário. Mas isso, meus caros leitores, era no meu tempo.
No século XXI, onde o mundano e o efêmero ganham cada dia mais status e importância cultural, jogos de videogame, contos da carochinha e objetos do cotidiano ganharam uma força descomunal, fazendo com que nossa relação com eles se transforme radicalmente, às vezes ganhando uma conotação gigantesca (e, por vezes, desproporcional).
Foi exatamente assim que eu me senti após sair da multimidiática exposição Celular 50 - Da primeira ligação à próxima geração, que acontece - até agosto - no Museu do amanhã, no centro do Rio.
Primeiro: antes de tudo, amando ou odiando este aparelho que nos acompanha 24 horas por dia, nos melhores e nos piores momentos, é inegável que nossa relação com o mundo, com a vida, e principalmente com o outro, mudou completamente depois do surgimento do celular. Às vezes facilitando e às vezes para bem, bem pior.
Mas esta última frase do parágrafo anterior sou apenas eu divagando (de novo). A exposição em questão prefere se debruçar sobre os avanços tecnológicos, que são notáveis em muitos aspectos. Digo mais: a continuar evoluindo dessa maneira, no futuro os celulares irão falar sozinhos, e nos descartarão de vez como mediadores (olha a inteligência artificial batendo na porta, logo ali na esquina!).
Do DynaTAC 8000x, o primeiro celular, criado pelo engenheiro americano Martin Cooper (conhecido popularmente como "pai" do artefato que revolucionou o mundo) até os modelos mais modernos - e indecentemente caros, é óbvio! - é possível vislumbrar um mundo à parte do próprio mundo. Como se nada daquilo fosse real, apenas um deleite, um delírio passageiro. Mas não. Ele existe e tende a se expandir ainda mais, em tempos de big techs e milionários inescrupulosos com suas ideias radicais para aumentar ainda mais seus vultosos patrimônios.
E o principal: o engajamento do público espectador. Poucas vezes vi uma turma tão interessada numa exposição como esta aqui. E é facil entender o porquê desse objeto tão cotidiano ganhar status dessa forma: o tema fala direto às pessoas, sem rodeios ou intelectualismos desnecessários. Diferentemente de uma mostra que falasse do Renascimento, da bossa nova ou da nouvelle vague, apenas para citar assuntos de grande repercussão, aqui não é preciso nenhum conhecimento prévio da parte espectadora e, além disso, quase todo mundo possui o seu próprio aparelho.
Mobilidade, liberdade, individualização, excesso, limites da tecnologia, o problema das fake news... Tudo para converge para a existência de um ser humano cada dia mais digital, praticamente robótico em alguns níveis. Pode parecer piada, mas me peguei na saída do museu pensando no quanto filmes como Tron, O passageiro do futuro e Matrix não são meras ficções. Pelo contrário. O homem-máquina é uma realidade mais do que à vista. Se isso será válido ou nocivo, cabe a nós como sociedade prestarmos atenção.
Em suma: o futuro chegou, se instaurou, quer nos policiar (é melhor não permitirmos tanto assim), decidir nos próximos passos. Logo, chegou a hora de nos posicionarmos como seres humanos que ainda somos. Recomendo - e muito - a visita ao museu do amanhã. Precisamos tirar nossas próprias impressões sobre tudo isso. Do contrário, serem controlados em tempo integral. E isso eu não apoio. Não mesmo.
Sem comentários:
Enviar um comentário