quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O plano definitivo para combater o crime


2022 chegando ao fim e eu quase me esqueço de falar sobre Robocop - o policial do futuro, de Paul Verhoeven - que completa 35 anos de existência esse ano - e da grande revolução que ele provocou na minha vida. 

É preciso, porém, dizer antes: na época em que as videolocadoras eram o suprassumo em termos de ficar antenado com o que acontecia na sétima arte, o meu gênero preferido nas prateleiras era o policial. Eu não podia ver dando sopa um exemplar de Dirty Harry ou Desejo de matar e corria imediatamente para casa para assistir. E se ainda por cima fosse um longa noir, como o antológico Relíquia macabra, de John Huston (inspirado no romance de Dashiell Hammett), aí é que eu enlouquecia de vez.

Imagina então se deparar, aos 11 anos, com um misto de narrativa policial com ficção científica e robótica? Lógico que eu nem li a sinopse. E os dizeres na capa do VHS eram bastante sugestivos: "parte homem, parte máquina, todo policial". Resultado: revi o filme, na época, umas três vezes, fora as inúmeras reexibições na famigerada Sessão da tarde da Rede Globo.

Na trama, acompanhamos o policial novato Alex Murphy (Peter Weller) acompanhado de sua parceira, Annie Lewis (Nancy Allen) em sua primeira missão investigativa, que acaba mal. Alex é estraçalhado pela gangue liderada por Clarence Boddicker (Kurtwood Smith) e vai à óbito. Entretanto, a OCP - empresa privada que controla a polícia numa Detroit governada pelo caos e pela violência - tem, na figura de um de seus executivos, Bob Morton (Miguel Ferrer), que almeja a direção do orgão, outros planos.

Cansado de colocar as vidas de milhares de policiais em risco todos os dias, ele decide criar um agente meio homem, meio máquina, que combata o crime. E para isso ele precisará do cérebro de um policial morto em combate (no caso, Alex). Embora seu projeto seja visto com ressalvas por muitos executivos da organização, ele mesmo assim consegue pô-lo em prática.

O problema: as memórias pessoais do agente Murphy, o passado, a família, começam a vir à tona e interferem em todo o processo. Mais do que isso: Murphy deseja se vingar daqueles que destruíram a sua vida, transformando-se numa espécie de vingador cibernético. 

Cheio de sátiras ao mundo real, campanhas publicitárias criadas para explicitar o quanto é difícil viver naquela cidade e com um hype e um estilo que, sinceramente, não cabem nessa crítica de tão elevados que são, Robocop é desses fenômenos de audiência que hollywood, no passado, produzia com bem mais frequência (e talento) do que no cinema atual.

O "robô" que é vendido para a população de Detroit como a solução definitiva contra a violência urbana percebe que, além de ter uma vida toda controlada pelo sistema (entre outras deliberações impostas pela hierarquia de comando ele nunca deve se voltar contra um executivo da OCP, seja em que circunstância ele se encontre), há situações nas ruas - o verdadeiro campo de batalha - muito mais complexas do que apenas seguir o livro de regras imposto a ele. 

E é nesse momento que ele precisará se livrar de todo esse aparato, que nada mais é do que um limitador de suas funções, para conseguir realmente realizar o seu trabalho - o clássico "proteger e servir".

Primeira produção hollywoodiana do diretor Paul Verhoeven, que já mostrara ser bom diretor com os longas Louca paixão e Conquista sangrenta (ambas parcerias com o ator Rutger Hauer), Robocop não só fez um retumbante sucesso nos cinemas como também gerou duas continuações (nenhuma delas, contudo, teve sua participação no projeto), uma série de tv de pouca repercussão e um remake desnecessário dirigido pelo cineasta brazuca José Padilha, o mesmo dos arrebatadores Tropa de Elite I e II. 

Porém, seu maior legado foi certamente ter popularizado de vez a figura do androide nos cinemas. Peter Weller e Nancy Allen podem até não ter dado uma interessante continuidade às suas carreiras (e olha que eles mereciam, hein!), mas ainda assim vejo o longa como um grande catalisador de um tipo de cinema que, até então, hollywood tinha medo de investir. Precisaram trazer um diretor da Holanda, então meio desconhecido, e arriscar. 

E no caso dele, Verhoeven, deu mais certo do que a própria franquia que construíram. Procurem no IMDb a carreira do diretor e me corrijam se eu estiver enganado. 

O que mais faltou dizer? Que se você ainda não assistiu esse clássico da ficção-científica oitentista, você sempre entenderá o pioneirismo de O exterminador do futuro, de James Cameron (1984) de forma isolada. E bons cinéfilos que se prezem não se bastam com isso. Não mesmo. 

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