Eu tenho bronca de franquias e continuações no mundo do cinema por um motivo óbvio: porque de tempos em tempos elas arruínam ideias que pareciam melhores quando contadas de uma vez só. 11 homens e um segredo, de Steven Soderbergh, tem esse problema. Homens de preto, de Barry Sonenfeld, também. E dentro desse universo das ideias infelizes que precisam de continuações para melhorar aquilo que não precisa ser melhorado, encontra-se praticamente encabeçando a lista Matrix, dos (na época) irmãos Andy e Larry Wachowski.
O longa original de 1999 é dessas experiências que os verdadeiros cinéfilos de carteirinha nunca irão se esquecer. Seja pelas cenas de ação memoráveis, pelo uso frenético da tecnologia ou pela história aprisionante do homem comum aprisionado ao sistema que se torna o messias de um revolução. E ao descer dos créditos, você pensa: "é isso, não precisa de mais nada". Infelizmente a dupla de diretores não viu dessa forma e realizou os execráveis Matrix reloaded e revolutions, para tristeza dos fãs da boa sétima arte.
E eis que 18 anos depois, Lana (anteriormente Larry), sem a companhia do irmão (agora irmã também), decide retomar este universo como eu disse antes: irretocável. E de novo entra em choque com o que era, até então, perfeito.
Matrix Resurrections traz Neo (Keanu Reeves, em seu visual John Wick, que o consagrou nos últimos tempos) de volta à sua faceta Thomas Anderson. Ele de novo vive de forma melancólica, ciente de que algo está faltando em sua vida. E não se trata de sucesso: ele é um bem sucedido desenvolvedor de games - no caso, o The Matrix para a Warner Bros (sim, o filme tem esse quê de ironia nada fina) - que poderia estar curtindo a sua existência com todos os méritos a que tem direito. Mas, na prática, não é isso o que acontece.
A começar pelo que sente por Tiffany (Carrie-Annie Moss) que em seu jogo conhece como Trinity. Ele frequenta sessões de terapia com seu analista (vivido por Neil Patrick Harris) para tentar entender o que se passa em sua cabeça, mas será surpreendido por Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II) e Bugs (Jessica Henwick) que o trazem de volta ao mundo real, um mundo que ele até então não sabia que conhecia tão bem e mais do que isso: era um líder.
Entre a saga para recuperar a memória de Neo e, por conseguinte, trazer de volta à tão amada Trinity e os novos desafios aos quais a resistência precisará enfrentar, o longa de Lana se perde justamente por não trazer aquilo que ele tinha de melhor em sua versão original. Esqueçam o agente Smith de Hugo Weaving e o Morpheus original de Laurence Fishburne. Eles não estão lá e, sim, você sentirá - e muito! - a falta de ambos. O oráculo que ajudou a definir o futuro da missão de Neo também não dá as caras e eu lamentei muito, porque gostava demais da atriz. E isso é apenas parte do problema.
As tão amadas cenas de ação sufocantes e em câmera lenta em alguns momentos estão lá e bem feitas, é bom que se diga!, mas parecem no todo genéricas, sem uma função específica. Que me perdoem os fanáticos da franquia, mas foi o que eu senti. O elenco de agentes que rodeiam Neo não é mal. Pelo contrário. Gosto da química entre eles, mas não têm a verve do elenco de 1999.
No final das contas, seja pelo ritmo arrastado em várias passagens, seja pela ausência de carisma (do filme, não dos atores), o que percebi como resultado foi estar diante de uma grande comédia dos erros. Os fãs de cinema de ação que não perdem a chance de testemunhar a grande paranoia por trás de franquias tresloucadas como Velozes e furiosos, Maze Runner e Resident Evil, certamente terão muito do que gostar aqui. Já os que esperavam novas ideias e teorias da conspiração... Sinto! Esse filme não será para você.
Matrix Resurrections é mais uma daquelas produções cinematográficas para você se perguntar ao fim porque hollywood continua insistindo nesse formato franchising que só serve para provar que a insistência numa trama já deu o que tinha que dar e o cinema americano precisa urgentemente de novos roteiristas, do contrário periga tornar-se refém de um loop temporal e a palavra originalidade perderá completamente o seu significado.
À parte este singelo desabafo, uma certeza será nítida ao fim da sessão: a franquia é um gosto adquirido e amar ou odiar só depende ainda dos espectadores. E eles estão cada vez mais fanáticos!
P.S ou apenas um raciocínio agregado: perguntam-me, volta e meia, porque sou contra o Quentin Tarantino realizar uma terceira parte de Kill Bill. Resposta: pelo mesmo motivo que me levou a escrever este texto. E quando a história encontra o seu desfecho, não há nada que você possa fazer para mudar isto.
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