Quase nove anos de falecida e ainda me soa terrivelmente difícil falar sobre a cantora Amy Winehouse, de quem serei eternamente fã (não importa onde ela estiver). E de certeza mesmo acerca dela apenas uma: o mercado fonográfico perdeu uma das maiores vozes dessa geração. Uma pena!
Até então o melhor registro que encontrei sobre ela foi o Amy Winehouse Live at Apollo em DVD. Detalhe: um dos melhores shows que eu assisti até hoje. Sua voz e trejeitos inconfundíveis, o cabelo que virou coqueluche entre as fãs do sexo feminino e a sensação legítima de estar testemunhando algo ímpar, sem igual no indústria da música. E agora... Não sobrou mais nada.
Quer dizer: sobrou o magnífico documentário vencedor do Oscar Amy, dirigido por Asif Kapadia (o mesmo que nos entregou anteriormente o documentário, também brilhante, Senna) para preencher as lacunas necessárias para que eu escrevesse este humilde artigo.
Amy, como tantas outras divas e fenômenos da indústria musical, também careceu de uma figura paterna mais presente, bem como uma instituição familiar mais sólida, menos apegada à fama, ao interesse, ao poder. E não bastasse essa carência ainda foi engolida por um relacionamento abusivo com o "oportunista" Blake Fielder-Civil e também por uma mídia tendenciosa e a indústria da invasão de privacidade que cerca todo ídolo de grande renome.
E nesse aspecto o filme transita bem por ambos recortes: de um lado, a profissional exigente, que não admitia errar nos ensaios, àquela que fora chamada até por Tony Bennett de "uma das maiores cantores de jazz que ele viu em toda a sua carreira". De outro, a perseguição de repórteres e paparazzis os mais diversos à sua vida privada, escândalos e o desejo irrefreável de mostrá-la sempre em seus piores momentos.
E por falar em piores momentos, como esquecer da desastrosa participação dela no Rock in Rio Lisboa, quando cantou completamente afônica e bêbada para uma plateia de revoltados que só queriam saber da devolução do seu dinheiro?
Estar na pele de Amy Winehouse era ficar dividido entre o esplendor da fama, dos prêmios, do reconhecimento do setor para o qual trabalhava, que a via como um nome a figurar, no futuro, entre grandes vozes como Aretha Franklin, Etta James, Frank Sinatra, Marvin Gaye e tantos outros, e ser rotulada como "a menina problema da vez", que perdia a paciência com relativa facilidade e não se via dentro de rótulos impostos pela sociedade e pelas gravadoras.
Se existe uma palavra capaz de definir o que ela era, o seu talento, a sua capacidade de se reinventar, essa palavra era: inclassificável. Em seu álbum póstumo, que muitos dizem desagradou sua própria gravadora, Lioness: hidden treasures, ela não perdeu a chance e arriscou numa versão de nosso clássico "Garota de Ipanema". Porque Amy era assim: subia no palco para cantar o que queria e ponto final.
Sei que muitos fãs a conhecem aqui no país mais por Back to black, que é magnífico (e minha preferida desse álbum será, eternamente, "Valerie"), mas recomendo aos ouvintes menos fanáticos que conheçam também Frank, seu álbum de estreia, e que mostrou muito da personalidade musical de Amy. Em suma: o que ela iria se tornar ao longo da carreira, se não tivesse morrido de forma tão prematura.
No dia de seu falecimento fiquei sabendo do ocorrido dentro de uma sala de cinema, pois um casal sentado à minha frente vira a notícia no celular e começou a chorar. Eu, pasmo, pensei tratar-se de mais um desses trotes comuns na internet. Não era. Para minha infelicidade, não era.
E com isso Amy entrou para o fatídico clube dos astros que morrem aos 27 anos (junto com Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, e outras feras). Ou seja: tornou-se uma lenda urbana, quase uma teoria da conspiração do segmento musical.
Chego ao fim desse contido texto mais lamentoso do que quando comecei. Depois que Amy faleceu venho encontrando dificuldades para descobrir novas grandes vozes no hit parade. O mercado fonográfico anda muito cheio de pose, de berro, de gente que faz playback no palco e se acha o máximo.
É... Amy vai fazer muita falta. E isso é ruim, porque o mercado precisa se reciclar, precisa mostrar outros caminhos; mas também é bom, porque sempre haverá espaço nas horas vagas para contarmos histórias sobre ela, sobre o legado que nos deixou. E ela era muito mais do que a imprensa vendeu sobre ela para nós, saudosos ouvintes.
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