Como é triste ser hater!
A humanidade adora rótulos, só não gosta mesmo de se ver rotulada. Apontar o dedo acusador para falhas e escolhas alheias virou um esporte nacional nas últimas décadas, principalmente quando a vítima é oriunda da periferia, do gueto ou pertence à etnia negra, indígena, etc. Contudo, quando eles - os acusados, os que sofrem bullying - chegam lá, atingem um patamar nunca antes imaginado ou visto, é notória a grandeza de suas histórias.
Foi exatamente assim que me senti desde o primeiro momento em que pisei no Centro Cultural Banco do Brasil para assistir a exposição Os Gêmeos - novos segredos, regresso da dupla de grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo ao espaço após 12 anos, e vi na rotunda o imenso boneco de braços abertos para o público. Abaixo dele, uma espécie de casa onde os visitantes entravam e se deparavam com milhares de desenhos e ilustrações da dupla se autorevezando num enorme telão de plasma.
Primeiro desafio: encarar a fila gigantesca de curiosos em êxtase para conseguir um ingresso. E olha que eu fui num dia de semana! Mas acreditem: a espera vale cada segundo.
São mais de mil itens que abarcam praticamente toda a carreira dos irmãos, dois dos artistas mais famosos do país no segmento e os que melhor souberam conduzir sua carreira internacional até o presente momento. Não é de hoje que fico estupefato diante dos desenhos inebriantes dos dois expostos em ruas nas principais capitais da Europa. E fico possesso de saber que vários desses murais já foram apagados por decisão de gestores pseudo-conservadores, seja por motivação administrativa ou ideológica. Definitivamente, essa gente não entende nem quer saber o real significado da palavra arte!
Retratos de família, críticas sociais e políticas, objetos pessoais, até um boneco dançando break no meio do salão (influência do hip-hop na carreira de ambos) levam a garotada - e, claro, seus pais - ao delírio. O grafite, meus caros leitores, não tem mais nada de marginal, de subarte, de underground. Ele se tornou tão vivo e reflexivo no século XXI quanto qualquer Van Gogh, qualquer Picasso, qualquer Goya.
E para aqueles que continuam fazendo uma correlação cretina entre a pichação chula, de rua, e esse trabalho artístico por demais complexo e rebuscado, recomendo irem urgentemente à exposição e tirarem a má impressão o quanto antes.
Fiquei sabendo com detalhes sobre o trabalho dos dois após assistir na tv a cabo ao extraordinário documentário Cidade Cinza (2013), de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, que mostra toda a parafernália necessária para que eles criem aqueles murais impressionantes. Fica a dica. E vejo no conjunto exposto aqui não somente um complemento, mas um registro definitivo do trabalho épico realizado pelos dois irmãos.
O grafite brazuca, aliás, vive um momento interessantíssimo dentro e fora do país. Eduardo Kobra, outro gigante nosso, acaba de criar um painel para a sede da ONU e vem expondo na Europa e nos EUA com certa regularidade. E eu espero sinceramente que essa "brazilian wave" (e pego aqui de empréstimo uma expressão que nos últimos anos vem sendo usada no surf mundial, principalmente depois do aparecimento e vitória do Gabriel Medina) se perpetue mais e mais, alavancando novos artistas.
E, é claro, que os detratores e invejosos estão se roendo de inveja, porque os caras - aqueles que saíram de Cambuci, em São Paulo, quase que com uma mão na frente e outra atrás - são foda, num nível que realmente não dá pra explicar. E ponto.
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