Se você não lembra da voz - e isso por si só já é um crime, pois era a voz! -, certamente se lembra de seu visual extravagante, dos cabelos esvoaçantes (ou dos topetes), dos terninhos multicoloridos, dos gritinhos e uivos que marcaram uma época. E cá entre nós: marca até hoje. Ele foi um pioneiro do rock n' roll. Poderia chamá-lo de pai do gênero, se quisesse, mas esse cargo ele não assumiu sozinho. O dividiu, com toda grandeza, junto a Chuck Berry. Ambos mitos!
E como todo mito, um dia ele parte. E deixa gigantescas saudades!
É com muito pesar que fico sabendo da notícia de que o grande Little Richard morreu hoje, aos 87 anos. E o rock nunca mais será o mesmo depois dele. Podem perguntar a qualquer fã do gênero para tirar a prova dos nove, se quiserem...
Richard Wayne Penniman nasceu em 5 de dezembro de 1932, em Macon, na Geórgia, num lar extremamente religioso. Mas diferentemente da homilia familiar ele queria mesmo era a rebeldia do rock. E muito por conta disso foi mal-interpretado, tendo que sair de casa ainda cedo, aos 13 anos. Talvez os moralistas acreditem que ele fez um mau negócio. Eu, não. Nascia ali uma lenda.
O apelido ele ganhou aos 15 anos e agradeceu, pois estava cansado de ouvir as pessoas pronunciarem seu nome original de forma errada. Mas isso, no final das contas, foi apenas um mero detalhe, já que as pessoas ainda não o tinham ouvido cantar. E de pequeno ele não tinha nada.
A apresentação no Tick Tock Club, onde ganhou um show de talentos foi o pontapé que ele precisava para plantar a semente de um legado que está vivo até hoje. Assinou o primeiro contrato com a gravadora RCA em 1951, mas o sucesso só deu as caras mesmo em 1955 (junto com os primeiros de muitos hits).
"Tutti-frutti" (1955), "Long tall Sally" (1956), "The girl can't help it" (1956), "Keep A-Knocking" (1957), "Lucille" (1957),"Good Golly, Miss Molly" (1958), "Whole lotta shakin' going on" (1959), etc. A lista é imensa e no caso específico de "Tutti-frutti", foi uma febre que enlouqueceu milhões de fãs ao redor do mundo. É aqui, nesta composição, que ele apresenta para o mundo a expressão que dá título a este texto.
Lembro-me de quando assisti a cinebiografia Little Richard, de Robert Townsend, numa antiga sessão do Intercine na Rede Globo. O cantor era interpretado pelo ator Leon (mais conhecido aqui no Brasil por seu personagem no filme Jamaica abaixo de zero, de Jon Turteltaub, sobre a primeira equipe jamaicana de bobsled a disputar uma edição das olimpíadas de inverno) e eu fiquei extasiado, pensando: "o que eu não daria para ter vivido aquela época!".
E Richard era desse jeito mesmo: intenso, à flor da pele, tem quem diga até diabólico. Mesmo quando, em 1958, se tornou pastor e construiu seu próprio ministério, ele não conseguiu abandonar os palcos e o fervor promovido pelo showbiz. Resultado: retomou a carreira quatro anos depois, com o mesmo sucesso de antes.
Tem quem afirme que seu maior legado até hoje foram os mais de 30 milhões de discos vendidos ao redor do mundo (e a repercussão que isso tudo tomou com o passar dos anos). Outros preferem acreditar que foi a capacidade inacreditável que ele teve de influenciar a carreira de tantos outros gênios da música. Não fosse Little Richard certamente o mercado fonográfico não teria visto Beatles, Otis Redding, Creedence Clearwater Revival, Elton John, David Bowie e tantas outras feras. Não teria MESMO.
Discussões à parte, ficam as boas lembranças, a música voraz, avassaladora, e a certeza de que 2020 entrará para a história como o ano em que perdemos muita gente fora de série. E no caso de Richard "bota fora de série nisso!". Certamente, quando o fizeram jogaram a forma fora. Uma pena.
Vai tocar sua guitarra (ou seu piano) no céu, mestre. Que eu vou continuar te ouvindo aqui embaixo.
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