quarta-feira, 15 de abril de 2020

O pai do romance policial brasileiro


...e a semana negra continua! Meu Deus!!! Não bastasse o Moraes Moreira, agora mais essa. 

Nem bem abri o meu perfil no facebook e me deparo logo de cara com a triste notícia do falecimento do escritor Rubem Fonseca, aos 94 anos, de infarto, em sua residência no Leblon. A matéria sobre sua morte está no blog do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. Uma pena! 

É difícil começar a falar sobre Rubem, pois ele foi o responsável direto por eu começar a me interessar por gêneros literários. Quando iniciei minha vida de leitor, aos 13 anos, por volta de 1988, 1989, eu escolhia minhas leituras de forma um tanto aleatória. Muitas vezes uma capa psicodélica ou o nome exótico de algum autor (por exemplo: Salman Rushdie, mestre por trás do polêmico Versos satânicos) chamava mais a minha atenção do que a sinopse do livro. Vocês sabem... Coisa de adolescente! 

Da guerra fria e a espionagem de Jack Higgins às fábulas de Esopo, da pirotecnia de Murilo Rubião às tragédias cariocas de Nelson Rodrigues (o anjo pornográfico), das tirinhas de jornal - minha favorita era o Recruta Zero - aos contos de João Antônio... Até que me deparo com Agosto, obra síntese da bibliografia de Rubem, que traz como pano de fundo o suicídio do presidente Getúlio Vargas. 

Pronto. Eu não queria mais outra vida. 

Vieram O cobrador, O selvagem da ópera (sobre Carlos Gomes, criador da ópera O Guarani), Feliz ano novo, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (que eu venho procurando nos últimos meses para reler, sem sucesso), O caso Morel, A grande arte (que foi adaptado aos cinemas pelo diretor Walter Salles), Os prisioneiros, A coleira do cão, Lúcia McCartney, Diário de um fescenino, Bufo & Spallanzani e muito mais... E todos, sem exceção, me causando uma excelente impressão. 

Quando me peguei fazendo um grande apanhado crítico de sua obra, me dei conta de estar diante de um artífice do mundo criminal. Digo mais (embora leitores mais antigos certamente queiram me desmentir): considero Rubem Fonseca o pai do romance policial brasileiro. Ou, no mínimo, aquele que popularizou o gênero em nossas terras com maestria. 

Dois de seus protagonistas se consagraram entre seus fãs mais apaixonados: o comissário Mattos, com a úlcera que vivia perseguindo-o, e o criminalista Mandrake (que rendeu até uma série televisiva da HBO com o ator Marcos Palmeira na pele do personagem). Entretanto, mesmo seus personagens menores eram instigantes. E Rubem era fascinado pelos assuntos e temas os mais mórbidos e fora da zona de conforto. Era capaz de falar sobre prosbocídeos (a família dos elefantes) com a mesma naturalidade com que falava de pornografia ou qualquer outra temática mais usual. 

Em outras palavras: mais mestre da pena do que isso, impossível!

O último livro dele que li foi o inusitado O romance morreu (e olha que no compêndio de colunas e crônicas havia espaço para falar até sobre o cantor Michael Jackson) e ele me deixou, em alguns momentos, com a sensação de que o formato anda realmente flertando com a morte - ou o desaparecimento. Mas, lógico, que o título é uma grande provocação. 

Rubem Fonseca é mais um autor fantástico que entra, infelizmente, para aquela lista de ficcionistas em que só nos sobrou relê-los. E isso me parece sempre muito pouco. Contudo, é também o momento de não deixarmos que seu nome morra ou caia no ostracismo. Eis uma boa hora para redescobrirmos o autor, que nos últimos anos andou mais recluso do que nunca (ele nunca foi um exemplo de popularidade, raramente concedia entrevistas, etc) e não teve boas críticas em suas últimas obras.

Ou seja: se você não conhece o seu trabalho, agora é a hora. E caso conheça, como eu, releia-o. Garanto que não vai se arrepender. Palavra de fã de longa data. 

Vai com Deus, mestre!

1 comentário:

  1. excelente escritor. li 17 livros dele, tenho autoridade pra falar: o cara é bom!!!! sempre acreditei q a única chance de nobel pro BR vinha dele. mas lhe faltou politica.

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