segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O pai do terror - e mais um pouco


O cinema mundial (e não somente hollywood) perderam hoje um dos seus maiores e mais talentosos artistas. Aos 87 anos morreu o diretor William Friedkin. E eu nem sei se vou conseguir escrever este breve post sobre ele (tendo em vista que quanto mais se fala sobre sua obra, mais ficam lacunas intransponíveis a serem decifradas). Ele era um camaleão da sétima arte e, muito provavelmente, teremos que passar o resto da vida para entender o seu legado - que, claro, é gigantesco.

Na verdade, o título deste post nem sequer explica a superfície do que foi a carreira desse mestre, contemporâneo da nova hollywood e de diretores como Scorsese, Coppola, Spielberg, De Palma e companhia. 

A grande maioria dos fãs certamente se lembrará dele mais pelo irretocável O exorcista, que completa 50 anos em 2023. Para mim, sem sombra de dúvidas, o maior filme de terror já feito na indústria de cinema norte-americana, e também uma excelente porta de entrada para conhecermos sua filmografia. 

Outro capítulo à parte de sua obra é o também monumental Operação França, vencedor de 5 Oscars em 1972, com Gene Hackman e Roy Scheider. Até hoje não consigo deixar de lembrar da famosa cena de perseguição que marcou época. E embora eu seja suspeito para falar do gênero policial (pois sou um fã praticamente doentio), considero esta produção um exemplar quase definitivo para entendermos o que é cinema criminal nos EUA. 

Friedkin flertou com as temáticas mais diversas e, sempre que pôde, surpreendeu com suas escolhas de projeto. Foi assim com Comboio do medo (1977), adaptação do romance O salário do medo, de Georges Arnaud (e que já tivera uma adaptação aclamada em 1953 pelo diretor Henri-Georges Clouzot); o drama criminal Parceiros da noite (1980), que esmiuça de forma profunda a cena gay americana e, principalmente, Viver e morrer em Los Angeles (1985), se não me falha a memória, o primeiro longa que eu chamei de cult assim que me tornei cinéfilo e frequentador assíduo das saudosas videolocadoras. 

Mas deixo aqui um pequeno conselho para os marinheiros de primeira viagem acerca do seu trabalho: deem também uma chance aos filmes menos lembrados (aqueles que, infelizmente, não repercutiram tanto ou não fizeram uma esplêndida carreira nas bilheterias). Aposto como irão se surpreender - e muito!

Tanto que forneço aqui umas dicas valiosas: 1) Os rapazes da banda (1970): provavelmente o melhor filme sobre a temática homossexual que eu assisti até hoje; 2) Caçado (2003): Benicio del Toro e Tommy Lee Jones num duelo mortal que explica como poucos o quanto o FBI e as forças especiais são capazes de criar máquinas de matar sem o menor critério ou ética e 3) Possuídos (2006): drama interessantíssimo sobre as consequências devastadoras do conflito americano no Oriente Médio. Último filme que vi com a atriz Ashley Judd depois que ela sumiu por causa dos escândalos de assédio perpetrados pelo produtor Harvey Weinstein.

E isso, meus caros leitores, mexendo apenas no óbvio. Espero sinceramente que vocês possam ir mais além. O diretor, com certeza, merece. 

No mais, deixo aqui minhas condolências e fico com a certeza de que mais uma vez o cinema americano perdeu um gigante. Já a renovação na indústria se encontra anos-luz de estar à altura de tantas perdas desse quilate nos últimos anos. A continuarmos desse jeito prevejo um futuro melancólico para os verdadeiros fãs da sétima arte de respeito.     

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