Não entendi a parcela da crítica de cinema dos jornais que disse que o filme O Retorno de Mary Poppins, continuação do clássico da Disney de 1964, apesar de divertido e visualmente apaixonante, é a prova viva de que a magia do gênero se perdeu. Discordo em gênero, número e grau.
Na verdade o que vem acontecendo nos últimos anos em hollywood é um festival de remakes e spin-offs desnecessários e feitos para se tornar caça-níqueis num período absurdo de tempo. Contudo, é louvável o esforço de diretores como Rob Marshall em interpretar grandes clássicos desse mesmo cinema.
Nos últimos anos a Walt Disney Pictures vem reapresentando ao público suas animações clássicas em forma de longametragens live action bem como trazendo projetos do passado em versões, digamos, mais sofisticadas, para atender não somente aos saudosos da época em que o estúdio era a única referência no setor, bem como novas plateias. Prova disso são as versões atualizadas de Mogli, A bela e a fera, Malévola (que traz a bruxa má como protagonista), Christopher Robin (que traz a história do Ursinho Pooh sob o viés de Cristóvão numa versão adulta) e tantos outros.
Porém, a priori, com O Retorno de Mary Poppins, a tarefa parecia mais complicada, tendo em vista a difícil tarefa de substituir a dupla Julie Andrews (atriz que marcou minha infância de forma ímpar) e Dick Van Dyke. Pois bem: Rob Marshall - que já enveredara pelo musical com Chicago, vencedor de 6 Oscars - traz Emily Blunt para assumir a árdua tarefa de interpretar a protagonista e decide seguir a cartilha clássica do gênero, sem abusar de invencionices estéticas (algo que nos últimos anos vem estragando muitos projetos até então alardeados como boas promessas).
Os filhos de Gordon Banks, Michael (Ben Wishaw) e Jane (Emily Mortimer) cresceram e ele, mais do que isso, casou-se e teve três filhos, Anabel, John e George. Com o falecimento da esposa e o acúmulo de dívidas junto ao banco onde trabalha a família se vê na iminência de perder a casa onde construíram todas as suas lembranças. E é nesse momento que a babá mais famosa da Disney aparece para ajudar a consertar as coisas.
Mais uma vez, assim como no original, a mistura entre animação e personagens reais é muito bem utilizada, e dessa vez aprimorada (tendo em vista que, após mais de 50 anos, a tecnologia de produção melhorou muito!). E o resultado é mesmerizante, multicolorido, esteticamente impecável e repleto de um humor ingênuo que, cá entre nós, anda em falta no cinema americano dos últimos anos.
Há presenças ilustres como Colin Forth na pele do banqueiro Wilkins, Meryl Streep, a queridinha do cinema hollywoodiano, vivendo a prima de Mary Poppins, Topsy e Julie Walters (mais conhecida aqui no país por seus personagens nos dois Mamma Mia) como a empregada Ellen, mas nada que ofusque a graciosidade proposta pelas três crianças, que aqui parecem ter mais apelo do que no filme original. Pelo menos, eu tive esse sensação!
O grande acerto de Emily Blunt é não tentar imitar Julie Andrews. Ela encontra sua própria voz numa personagem cujo carisma é mais do que indispensável. E se é verdade que, por um lado, ela carece de um parceiro de aventuras à altura, pois o Jack de Lin-Manuel Miranda, está à anos-luz de distância do Bert de Dick Van Dyke (que, aliás, fez participação especial no longa), também é verdade que ela dá conta do recado numa história que precisa ser alegre a maior parte do tempo para conquistar as novas gerações de filmes.
Entretanto, há temas um pouco baixo-astral nas entrelinhas da trama. Como, por exemplo, a tia Jane, solteirona, que herdou um pouco da personalidade da mãe, então sufragista, e prefere lutar pelos direitos dos menos favorecidos em passeatas e manifestos do que encontrar sua alma gêmea e o banqueiro inescrupuloso, que tentará de tudo para pôr as mãos na casa da família Banks. Mas nada que afete o brilho e o sentimento de nostalgia do filme.
Voltando aos críticos xiitas e reclamões, que disseram ter a história perdido a sua magia. Recomendo-lhes que dêem uma nova chance ao filme. O Retorno de Mary Poppins mostra mais uma vez porque a Disney continua encantando gerações ao redor do mundo e seus concorrentes continuam com, pelo menos, um pé atrás no quesito conquistar plateias.
Longa vida à casa do Mickey Mouse. E que venham Dumbo e Alladin (já em fase de produção)!
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