É difícil precisar o que é real neste mundo contemporâneo. E em se tratando de um país como o Brasil, que nunca teve uma boa relação com a palavra verdade, preferindo ficções e mentiras sinceras, este conceito torna-se ainda mais abstrato, vago. Contudo, provocador que sempre fui (e não acredito num mundo à base de fantasias) continuo procurando a realidade por todos os lugares onde ando, mesmo que em meio a uma sociedade que prefira viver de olhos fechados ao que realmente acontece ao seu redor.
Dito isto, foi com enorme prazer que adentrei o Centro Cultural Banco do Brasil neste último final de semana para ver a exposição 50 anos de realismo - do fotorrealismo à realidade virtual.
O grande mérito da mostra, a meu ver, foi o de mostrar nuances disso que chamamos corriqueiramente de realidade ao longo dos séculos. Afinal de contas, a sociedade não foi sempre baseada em reality shows e inteligências artificiais. Houve um tempo - acreditem os mais jovens, se quiserem! - em que precisávamos enxergar o mundo com nossos próprios olhos. E não haviam showrunners, algoritmos de produção ou neurociência pautando a agenda e os costumes da sociedade civil (como hoje em dia).
E o resultado desta equação que envolve desde o passado glorioso permeado por pinturas clássicas (e nesse sentido, ver a tela magistral de Goya que virou capa do álbum Viva la vida do grupo Coldplay foi uma grata surpresa) até fotos modernas inebriantes de grandes metrópoles, foi enriquecedor em todos os sentidos. Sejam eles imagéticos ou sociais.
Cabe aqui, de minha parte, um elogio em especial para as esculturas exibidas (honestamente, a melhor parte do acervo). O menino que atira pedras nos espectadores, a mulher desnuda, o garoto com a capa de super-herói são mostrados de forma tão viva que, por um momento, pensei tratarem-se de pessoas reais fazendo vitrine viva. E certamente esta foi a intenção de seus artistas.
E ao pensar na palavra viva percebo o quanto o real está presente na exposição em pequenos detalhes: nas pontas de lápis, no quebrar das ondas na praia, no sorriso da modelo, no cume da montanha, no close nas frutas, etc...
O problema, entretanto, é que as novas gerações (leiam-se: os adolescentes nerds) não conseguem entender, por mais que tentem, quando tentam, a grandeza naquilo que à primeira vista parece simples. Eles precisam, ao contrário deste que vos escreve este artigo, de imagens grandiosas, sensacionais, retocadas por photoshop ou pelos efeitos especiais de hollywood. Não à toa a franquia dos Vingadores, criada pela Marvel Comics, tornou-se a religião dessa gente, empobrecendo o que havia de mágico na sétima arte, hoje relegada à bilheterias astronômicas e continuações óbvias.
Entre outras palavras: não há espaço na atual "realidade" do mundo (e as aspas aqui são propositais) para qualquer outra coisa que não represente ou emule o extraordinário. Ser comum ficou enfadonho, daí a necessidade do fantástico, do sobrenatural em nossas vidas (quer dizer: na vida dessas pessoas "acima da média"). Prova viva disso foi o meu desinteresse em usar os óculos 3D para vislumbrar o que essa gente chama de futuro.
Se o futuro é isso, cá entre nós, morrerei nostálgico.
Que 50 anos de realismo sirva de legado às próximas gerações. Que elas sejam mais sábias e mentes abertas do que a atual humanidade vigente, que carece dia a dia de valores, de ética, de respeito ao próximo, ao que passou e deixou ramificações em nossa sociedade.
Entender o real não é uma questão de querer transformá-lo ou corrigi-lo e sim de compreendê-lo em suas mínimas diferenças à medida que os séculos passam e a humanidade se desconstrói. "E não temos a obrigação", parece-me dizer a todo momento a mostra, "de repaginar o ontem ou o hoje segundo nossos próprios interesses".
Resta agora fazer os seres humanos deste século XXI que acabou de começar entenderem isso!
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